Abraham Moritz Warburg mais conhecido como Aby Warburg (Hamburgo, 13 de junho de 1866 — 26 de outubro, 1929) foi um historiador da arte alemão, célebre por seus estudos sobre o ressurgimento do paganismo no renascimento italiano.
Ficou conhecido também pela Biblioteca referencial que levava seu nome, e que reunia uma grande coleção sobre ciências humanas e que, ao ser transferida para Londres em 1933, tornou-se a base para a constituição do Instituto Warburg.
Fonte: Wikipedia
Pesquisa entre os índios
Uma passagem decisiva da vida de Warburg, foi em 1895, aos 29 anos, o historiador fez uma viagem a territórios dos índios Pueblo nos estados norte-americanos de Arizona e Novo México. Suas anotações indicam que buscava novos rumos para as pesquisas: “Eu estava sinceramente farto da história estetizante da arte”, escreveu, criticando os “falatórios estéreis” produzidos pela mera “contemplação formal da imagem”. Nos rituais indígenas, viu-se diante de uma demonstração vibrante da sobrevivência de elementos “pagãos” como os que buscava nas obras do Renascimento.
De volta a Hamburgo, continuou a alimentar sua biblioteca, impulsionado pela ideia de que suas pesquisas deviam “funcionar como um sismógrafo da alma na linha divisória entre as culturas”. Primogênito de uma tradicional família de banqueiros alemães, ele havia abdicado da herança aos 13 anos, sob uma condição: seu irmão mais novo poderia assumir o banco desde que fornecesse a Warburg todos os livros que desejasse até o fim da vida. Em 1911, já tinha 15 mil volumes.
Durante a Primeira Guerra Mundial, colocou a biblioteca a serviço da documentação do conflito. Chegou a reunir em um ano 25 mil recortes da imprensa alemã e estrangeira. Um colapso nervoso ao fim da guerra levou-o a se internar em um sanatório na Suíça. Retomou os trabalhos em 1924 e, dois anos depois, inaugurou um grande edifício para abrigar seu acervo, que já chegava a 46 mil volumes. Nascia a Biblioteca Warburg de Ciência da Cultura.
— Com Warburg, a biblioteca é concebida não só como lugar de conhecimento, mas como cenário no qual se desenrolam os fenômenos que ele investigava no campo da História da Arte.
Depois de sua morte, em 1929, o círculo de pesquisadores que havia se formado em torno de Warburg organizou a edição dos textos publicados em vida por ele, lançada em 1932. No ano seguinte, diante do avanço nazista na Alemanha, a biblioteca (já com 60 mil obras) foi transferida para Londres, onde serviu de base para a criação do Instituto Warburg, que nas últimas décadas recebeu gerações de pensadores como Ernst Gombrich, Erwin Panofsky, Carlo Ginzburg e Giorgio Agamben. Hoje integrado à Universidade de Londres, o instituto tem uma biblioteca de mais de 300 mil títulos, onde permanece em vigor a “lei da boa vizinhança”: seus quatro andares correspondem a seções batizadas apenas como Imagem, Palavra, Orientação e Ação.
Retórica visual
Os livros se foram de Hamburgo, mas a cidade abriga até hoje a Casa Warburg, centro de estudos dedicado a, entre outras atividades, coordenar a edição das obras completas do autor em alemão. Diretor da instituição e um dos responsáveis pelas publicações, o historiador Uwe Fleckner vem ao Brasil em junho para o evento Coleções Literárias, na UFSC, e para a conferência no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, na qual falará sobre a “retórica visual” de Warburg.
Fleckner cita como exemplo desse método o último livro editado pela Casa, em 2012, dedicado às séries fotográficas e exposições preparadas pelo autor ao longo da vida. Nas conferências, Warburg costumava falar diante de painéis semelhantes aos do “Atlas”, preparados especialmente para a ocasião. Os textos dessas apresentações, muitas vezes improvisadas, se perderam, mas restaram as fotos dos painéis.
Parte importante do trabalho editorial de Fleckner foi interpretar essas composições. Nelas, vê o trabalho de um pensador que recusava distinções entre obras de arte e imagens do cotidiano, entre História e “atualidade”, entre arte ocidental e “não ocidental”.
— Warburg oferece um modelo para repensarmos nossos métodos. Não devemos transformar sua obra em monumento. Podemos pensar nele como um contemporâneo, um colega com quem continuamos a trabalhar.
A Kulturwissenschaftliche Bibliothek Warburg (Biblioteca Warburg de Ciência da Cultura) contava com quase 70.000 volumes. Sua coleção abrangia não só a arte, sua história, produção e crítica, mas também sociologia, antropologia, religião, astronomia, etc.
No entanto, foi sua forma de organização que foi sua característica mais marcante e que refletia os problemas teóricos aos quais Warburg dedicou-se durante toda a sua vida. O principal era a Nachleben der Antike (a sobrevivência do antigo), a persistência das imagens e das idéias da Antigüidade clássica pagã através dos tempos na civilização ocidental.
Warburg dispunha os livros nas estantes sem recorrer a nenhum método de sistematização biblioteconômica, mas a uma sistema que respeitava um critério pessoal que ele chamava de "lei da boa vizinhança". Assim, os livros de astrologia estavam próximos aos de astronomia; alquimia perto de química, etc.
A organização peculiar de Warburg atingiu seu ponto máximo de sofisticação próximo de sua morte, quando um edifício foi construído especialmente para abrigar sua coleção. O sistema por ele engendrado, com a participação de seus colaboradores Fritz Saxl e Gertrud Bing, dividia os livros em quatro andares, obedecendo à ordem:
1.o andar: Drômenon (Ação) 2.o andar: Wort (Palavra) 3.o andar: Bild (Imagem) 4.o andar: Orientienrung (Orientação)
Ficou conhecido também pela Biblioteca referencial que levava seu nome, e que reunia uma grande coleção sobre ciências humanas e que, ao ser transferida para Londres em 1933, tornou-se a base para a constituição do Instituto Warburg.
Fonte: Wikipedia
Aby Warburg - Fonte: Wikipedia |
Na biblioteca de Aby Warburg, os livros não eram dispostos por idioma, gênero ou ordem alfabética. Seus milhares
de volumes eram organizados por afinidade, obedecendo ao que o historiador alemão chamava de “lei da boa vizinhança”. Os temas de uma
obra se desdobravam na obra ao lado, que por sua vez era aprofundada ou
contestada pela seguinte, e assim por diante, criando uma rede idiossincrática e virtualmente infinita de conhecimento espalhada pelas
prateleiras. Na entrada do edifício que construiu em 1926, em Hamburgo, sua cidade natal, para abrigar o acervo sempre crescente, descrito por
visitantes ora como lugar de sonho ora como labirinto desnorteante, mandou gravar o nome de Mnemosyne, deusa grega da memória.
A expressão aparece também no título de seu projeto mais ambicioso, “Atlas Mnemosyne”. Regido por princípio semelhante ao da biblioteca, era um
conjunto de painéis onde o historiador afixava reproduções de pinturas, marcos arquitetônicos, retratos, diagramas, mapas. Ao morrer, em 1929,
Warburg deixou o “Atlas” inacabado (ou era inacabável por definição), com 70 painéis e cerca de 1.300 imagens que contam uma versão
alternativa da História da Arte, determinada não por estilos ou períodos, e sim por aproximações entre formas e temas de diferentes
épocas.
Uma passagem decisiva da vida de Warburg, foi em 1895, aos 29 anos, o historiador fez uma viagem a territórios dos índios Pueblo nos estados norte-americanos de Arizona e Novo México. Suas anotações indicam que buscava novos rumos para as pesquisas: “Eu estava sinceramente farto da história estetizante da arte”, escreveu, criticando os “falatórios estéreis” produzidos pela mera “contemplação formal da imagem”. Nos rituais indígenas, viu-se diante de uma demonstração vibrante da sobrevivência de elementos “pagãos” como os que buscava nas obras do Renascimento.
De volta a Hamburgo, continuou a alimentar sua biblioteca, impulsionado pela ideia de que suas pesquisas deviam “funcionar como um sismógrafo da alma na linha divisória entre as culturas”. Primogênito de uma tradicional família de banqueiros alemães, ele havia abdicado da herança aos 13 anos, sob uma condição: seu irmão mais novo poderia assumir o banco desde que fornecesse a Warburg todos os livros que desejasse até o fim da vida. Em 1911, já tinha 15 mil volumes.
Durante a Primeira Guerra Mundial, colocou a biblioteca a serviço da documentação do conflito. Chegou a reunir em um ano 25 mil recortes da imprensa alemã e estrangeira. Um colapso nervoso ao fim da guerra levou-o a se internar em um sanatório na Suíça. Retomou os trabalhos em 1924 e, dois anos depois, inaugurou um grande edifício para abrigar seu acervo, que já chegava a 46 mil volumes. Nascia a Biblioteca Warburg de Ciência da Cultura.
— Com Warburg, a biblioteca é concebida não só como lugar de conhecimento, mas como cenário no qual se desenrolam os fenômenos que ele investigava no campo da História da Arte.
Depois de sua morte, em 1929, o círculo de pesquisadores que havia se formado em torno de Warburg organizou a edição dos textos publicados em vida por ele, lançada em 1932. No ano seguinte, diante do avanço nazista na Alemanha, a biblioteca (já com 60 mil obras) foi transferida para Londres, onde serviu de base para a criação do Instituto Warburg, que nas últimas décadas recebeu gerações de pensadores como Ernst Gombrich, Erwin Panofsky, Carlo Ginzburg e Giorgio Agamben. Hoje integrado à Universidade de Londres, o instituto tem uma biblioteca de mais de 300 mil títulos, onde permanece em vigor a “lei da boa vizinhança”: seus quatro andares correspondem a seções batizadas apenas como Imagem, Palavra, Orientação e Ação.
Retórica visual
Os livros se foram de Hamburgo, mas a cidade abriga até hoje a Casa Warburg, centro de estudos dedicado a, entre outras atividades, coordenar a edição das obras completas do autor em alemão. Diretor da instituição e um dos responsáveis pelas publicações, o historiador Uwe Fleckner vem ao Brasil em junho para o evento Coleções Literárias, na UFSC, e para a conferência no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, na qual falará sobre a “retórica visual” de Warburg.
Fleckner cita como exemplo desse método o último livro editado pela Casa, em 2012, dedicado às séries fotográficas e exposições preparadas pelo autor ao longo da vida. Nas conferências, Warburg costumava falar diante de painéis semelhantes aos do “Atlas”, preparados especialmente para a ocasião. Os textos dessas apresentações, muitas vezes improvisadas, se perderam, mas restaram as fotos dos painéis.
Parte importante do trabalho editorial de Fleckner foi interpretar essas composições. Nelas, vê o trabalho de um pensador que recusava distinções entre obras de arte e imagens do cotidiano, entre História e “atualidade”, entre arte ocidental e “não ocidental”.
— Warburg oferece um modelo para repensarmos nossos métodos. Não devemos transformar sua obra em monumento. Podemos pensar nele como um contemporâneo, um colega com quem continuamos a trabalhar.
Fonte: O Globo - Warburg
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Biblioteca Warburg
Em 1909 começou a organizar a Biblioteca Warburg (futuro Instituto Warburg), primeiramente com a finalidade de ter sempre à mão a bibliografia necessária para os seus estudos, que abrangiam toda a civilização ocidental. Em 1914, começou a acolher outros estudiosos que o procuravam para consultar a coleção, e a tornou semi-pública, com publicação de duas revistas com artigos resultantes dos estudos ali realizados. Pretendeu abrir totalmente a Biblioteca, abrindo bolsas para estudantes ligados à futura instituição, mas a Primeira Guerra Mundial e sua internação em uma clínica neurológica entre 1918 e 1923 atrasaram a abertura da Biblioteca, realizada durante o período do seu tratamento por Fritz Saxl. Após seu restabelecimento e retomada das atividades, Warburg mandou construir um edifício planejado para abrigar exclusivamente a Biblioteca, com um espaço para aulas, construído na forma oval.A Kulturwissenschaftliche Bibliothek Warburg (Biblioteca Warburg de Ciência da Cultura) contava com quase 70.000 volumes. Sua coleção abrangia não só a arte, sua história, produção e crítica, mas também sociologia, antropologia, religião, astronomia, etc.
No entanto, foi sua forma de organização que foi sua característica mais marcante e que refletia os problemas teóricos aos quais Warburg dedicou-se durante toda a sua vida. O principal era a Nachleben der Antike (a sobrevivência do antigo), a persistência das imagens e das idéias da Antigüidade clássica pagã através dos tempos na civilização ocidental.
Warburg dispunha os livros nas estantes sem recorrer a nenhum método de sistematização biblioteconômica, mas a uma sistema que respeitava um critério pessoal que ele chamava de "lei da boa vizinhança". Assim, os livros de astrologia estavam próximos aos de astronomia; alquimia perto de química, etc.
A organização peculiar de Warburg atingiu seu ponto máximo de sofisticação próximo de sua morte, quando um edifício foi construído especialmente para abrigar sua coleção. O sistema por ele engendrado, com a participação de seus colaboradores Fritz Saxl e Gertrud Bing, dividia os livros em quatro andares, obedecendo à ordem:
1.o andar: Drômenon (Ação) 2.o andar: Wort (Palavra) 3.o andar: Bild (Imagem) 4.o andar: Orientienrung (Orientação)
Fonte: Wikipedia
Literature
Bibliographies- Dieter Wuttke: Aby-M.-Warburg-Bibliographie 1866 bis 1995. Werk und Wirkung; mit Annotationen. Baden-Baden: Koerner 1998. ISBN 3-87320-163-1
- Björn Biester / Dieter Wuttke: Aby M. Warburg-Bibliographie 1996 bis 2005 : mit Annotationen und mit Nachträgen zur Bibliographie 1866 bis 1995. Koerner, Baden-Baden 2007, ISBN 978-3-87320-713-4
- Thomas Gilbhard: Warburg more bibliographico, in: Nouvelles de la République des Lettres, 2008/2.
- Warburg-Bibliography 2006ff online
- Ernst H. Gombrich: Aby Warburg. An Intellectual Biography. The Warburg Institute, London 1970; German Edition Frankfurt 1981, reissued Hamburg 2006. (partly as PDF, 2.014 KB)
- Bernd Roeck: Der junge Aby Warburg. München 1997.
- Carl Georg Heise: Persönliche Erinnerungen an Aby Warburg. Hrsg. und kommentiert von Björn Biester und Hans-Michael Schäfer (Gratia. Bamberger Schriften zur Renaissanceforschung 43). Wiesbaden: Harrassowitz, 2005.
- Mark A. Russell: Between Tradition and Modernity: Aby Warburg and the Public Purposes of Art in Hamburg, 1896-1918. Berghahn Books. New York and Oxford 2007.
- Karen Michels: Aby Warburg — Im Bannkreis der Ideen. C.H. Beck. München 2007.
- Silvia Ferretti: Cassirer, Panofsky and Warburg: Symbol, Art and History. Yale U.P., London, New Haven 1989.
- Horst Bredekamp, Michael Diers, Charlotte Schoell-Glass (eds.): Aby Warburg. Akten des internat. Symposiums Hamburg 1990. Weinheim 1991.
- P. Schmidt: Aby Warburg und die Ikonologie. Mit e. Anhang unbekannter Quellen zur Geschichte der Internat. Gesellschaft für ikonographische Studien von D. Wuttke. 2. Aufl. Wiesbaden 1993.
- Charlotte Schoell-Glass, Aby Warburg und der Antisemitismus. Kulturwissenschaft als Geistespolitik. Fischer Taschenbuch, Frankfurt am Main 1998. ISBN 3-596-14076-5
- Georges Didi-Huberman, L'image survivante: histoire de l'art et temps des fantômes selon Aby Warburg. Les Éd. de Minuit, Paris 2002. ISBN 2-7073-1772-1
- Hans-Michael Schäfer: Die Kulturwissenschaftliche Bibliothek Warburg. Geschichte und Persönlichkeit der Bibliothek Warburg mit Berücksichtigung der Bibliothekslandschaft und der Stadtsituation der Freien u. Hansestadt Hamburg zu Beginn des 20. Jahrhunderts. Logos Verlag, Berlin 2003.
- Michaud, Phillippe-Alain (2004). Aby Warburg and the Image in Motion. Zone Books. ISBN 978-1-890951-40-5.
- Ludwig Binswanger: Aby Warburg: La guarigione infinita. Storia clinica di Aby Warburg. A cura di Davide Stimilli. Vicenza 2005 (German: Die unendliche Heilung. Aby Warburgs Krankengeschichte, Zürich/Berlin: diaphanes, 2007).
- Photographs at the Frontier, Nicholas Mann et alii eds., London 1990
- Cora Bender, Thomas Hensel, Erhard Schüttpelz (eds.): Schlangenritual. Der Transfer der Wissensformen vom Tsu'ti'kive der Hopi bis zu Aby Warburgs Kreuzlinger Vortrag. Akademie Verlag, Berlin 2007. ISBN 978-3-05-004203-9
- Wolfgang Bock: Urbild und magische Hülle.Aby Warburgs Theorie der Astrologie, in: Bock: Astrologie und Aufklärung. Über modernen Aberglauben, Stuttgart: Metzler 1995, pp. 265–254
- Wolfgang Bock: Verborgene Himmelslichter. Sterne als messianische Orientierung. Benjamin, Warburg, in: Bock: Walter Benjamin. Die Rettung der Nacht. Sterne, Melancholie und Messianismus, Bielefeld: Aisthesis, 2000, pp. 195–218
- Thomas Hensel: Wie aus der Kunstgeschichte eine Bildwissenschaft wurde: Aby Warburgs Graphien. Akademie Verlag, Berlin 2011
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