Márcio Gonçalves Bentes de Souza (Manaus, 4 de março 1946) é um escritor brasileiro, autor de diversas obras inseridas no ambiente sociocultural da Amazônia, tais como Mad Maria, Galvez, Imperador do Acre, Plácido de Castro contra o Bolivian Syndicate, Zona Franca, meu amor, Silvino Santos: o cineasta do ciclo da borracha, entre outras.
Destacou-se também como cineasta e ensaísta (A selva; A expressão amazonense do neolítico à sociedade de consumo). Mais recentemente, tem-se dedicado a uma tetralogia sobre os anos em que a antiga Província do Grão-Pará, que fora durante todo o período colonial um Estado separado do Estado do Brasil, atravessou a série crise de sua anexação ao Brasil e de revoltas contra o poder do Rio de Janeiro e/ou contra a desigualdade social, de que padeciam sobretudo os negros e os indígenas.
Foi também presidente da Funarte entre 1995 e 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Fonte: Wikipédia
Resenhas: Mad Maria
Mad Maria, escrito em 1980, é o segundo livro de Souza e a narrativa transcorre no interior da Amazônia. O livro relata a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, entre 1907 e 1912. Na época os investidores tinham o objetivo de construir uma estrada que pudesse competir com o Canal do Panamá. A ferrovia integraria uma região rica em látex na Bolívia com a Amazônia, mas no caminho, encontraria obstáculos descomunais: 19 cataratas, 227 milhas de pântanos e desfiladeiros, centenas de cobras e escorpiões, árvores gigantescas e milhões de mosquitos transmissores de malária. Antes de terminadas as obras, 3,6 mil homens estavam mortos, 30 mil hospitalizados e uma fortuna em dólares desperdiçada na selva.
“Mad Maria é um romance sem complacência, uma Ilíada proletária onde os deuses são substituídos por políticos corrompidos, Norte-Americanos rapinantes. Chefes sem piedade, e seria errôneo acusar Márcio Souza de maniqueísmo: nenhum de seus personagens redime o outro, Finnegan, o mais confiante, o mais idealista, o mais fraternal, acabará na pele de um assassino. Assim são as coisas em uma Amazônia que deveria inspirar coesão, solidariedade, mas que exacerba egoísmo, multiplica suscetibilidade e conflitos, sacrifica o melhor pelo pior...
Há algo de Zola e de Jack London em Mad Maria. O importante não é este ou aquele personagem, mas a vitória do sistema. Ninguém sai ileso. Aqueles que tentam escapar terminam em bordéis ou, mais radicalmente, acabam decapitados.
Com Mad Maria, Márcio Souza assinou um romance amargo e vingador, sarcástico às vezes. Porém, para dizê-lo cinicamente, o que pode uma flecha de curare contra um exército de bulldorzes?” Jacques Meunier, Lê Monde, 21 de agosto de 1986.
Ao escolher os episódios mais macabros e inacreditáveis dos registros históricos dos cinco anos da construção da ferrovia e concentrando-os em três meses de pesadelo, Márcio Souza força o leitor - neste momento já quase um personagem emaranhado na vegetação - a confrontar o inferno. Mad Maria é um romance amargo e vingador, sarcástico, às vezes. Uma obra-prima da literatura brasileira.
Mad Maria - Márcio Souza
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Márcio Souza tem recontado a história do Brasil de forma admirável ao longo de sua carreira. Seguindo os passos de Galvez, o imperador do Acre, Mad Maria é mais um romance memorável do escritor.
O livro relata a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, entre 1907 e 1912. Na época os investidores tinham o objetivo de construir uma estrada que pudesse competir com o Canal do Panamá. A ferrovia integraria uma região rica em látex na Bolívia com a Amazônia, mas no caminho, encontraria obstáculos descomunais: 19 cataratas, 227 milhas de pântanos e desfiladeiros, centenas de cobras e escorpiões, árvores gigantescas e milhões de mosquitos transmissores de malária. Antes de terminadas as obras, 3,6 mil homens estavam mortos, 30 mil hospitalizados e uma fortuna em dólares desperdiçada na selva. Ao escolher os episódios mais macabros e inacreditáveis dos registros históricos dos cinco anos da construção da ferrovia e concentrando-os em três meses de pesadelo, Márcio Souza força o leitor - neste momento já quase um personagem emaranhado na vegetação - a confrontar o inferno. Mad Maria é um romance amargo e vingador, sarcástico, í s vezes. Uma obra-prima da literatura brasileira. Márcio Souza nasceu em Manaus em 1946. Formado em Ciências Sociais pela USP, começou a vida profissional no cinema, como crítico, roteirista e diretor. Tem uma sólida carreira como dramaturgo, autor de peças como Ação entre amigos e Tem piranha no Pirarucu. Galvez Imperador do Acre marca a estréia literária em 1976. Sua carreira como escritor já conta com mais de vinte títulos, entre eles O fim do terceiro mundo, Lealdade, Desordem e Entre Móises e Macunaíma. Desde 1995 é presidente da Funarte. "A ironia amarga de Márcio Souza germina diretamente do coração das trevas." The New York Tikmes Book Review "Epopéia í s avessas, romance notável de um Márcio Souza crescentemente mestre de seu ofício e transbordante de talento, Mad Maria é um faroeste à medida brasileira: sem ilusões, vigilante e pontiagudo como uma flecha na noite escura." Folha de São Paulo Autor: Márcio Souza
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Resenha de Mad Maria (clikc no link) de Divino Litria Nascimento
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Mad Maria - Márcio Souza - resumo
Adaptado de Rodrigo Cunha
No
final do século XIX e início do século XX, os trilhos de ferro que
começavam a cortar o continental território brasileiro e a fumaça das
locomotivas que passavam por eles - carinhosamente chamadas de Marias -
simbolizavam de certa forma a chegada do progresso ao país. A louca
Maria do título desse romance do amazonense Márcio Souza sintetiza a
insanidade de um malogrado projeto ferroviário que estendia essa idéia
de progresso para uma desconhecida e imprevisível região da floresta
amazônica.
Após
os conflitos entre brasileiros e bolivianos pela ocupação de uma região
que corresponde ao atual estado do Acre, o governo brasileiro se
comprometeu através do Tratado de Petrópolis, assinado por Brasil e
Bolívia em 1903, a construir uma ferrovia desde o porto de Santo
Antônio, no rio Madeira, em Mato Grosso, até Guajará-Mirim, no rio
Mamoré, com um ramal que chegasse à Vila Bela, na Bolívia. O edital de
concorrência pública para construção da ferrovia foi publicado em 1905 e
vencido pelo engenheiro Joaquim Catrambi, mero testa-de-ferro do grupo
norte-americano que se encarregou de construir a estrada de ferro
Madeira-Mamoré entre 1906 e 1912.
Em
Mad Maria, o romancista Márcio Souza - que também fez filmes e peças de
teatro sobre a região amazônica - conta, em forma de ficção, as
desventuras dos homens que trabalharam na etapa final da construção da
ferrovia. O ponto de partida da narrativa é o verão de 1911, quando o
jovem médico de origem irlandesa Richard Finnegan, começa a trabalhar na
enfermaria do acampamento onde vivem os trabalhadores da Madeira-Mamoré
Railway Company. O calor infernal e sua luta com os escorpiões que
apareciam após as rápidas chuvas de verão eram apenas o prenúncio do que
ele viveria a partir de então e o levaria, senão à loucura sintetizada
na locomotiva que reina sobre os trilhos que ligam o nada a parte alguma
- segundo o colérico engenheiro inglês Stephan Collier, que chefia as
obras - à dureza de caráter, passando a encarar como rotina os óbitos de
trabalhadores que ele atestava e registrava metodicamente em seus
relatórios, e a lidar, ao final da narrativa, com os mesmos métodos de
intimidação bélica que Collier adotava diante das insanas e freqüentes
brigas entre os trabalhadores de diferentes nacionalidades.
Dentre
os episódios que vão endurecendo o caráter do jovem Finnegan e que
ilustram a crua violência que permeia grande parte da narrativa estão as
mortes por malária de trabalhadores que vendiam a sua dose de
medicamento preventivo para ganhar um pouco mais do que o salário
miserável que recebiam da companhia, e o seqüestro do médico por
trabalhadores alemães que, após uma tentativa de greve frustrada,
resolvem fugir do acampamento e o levam como refém, amarrado dentro de
um tonel de gordura carregado por uma mula.
A
violência aparece mais explicitamente em cenas fortes como a do negro
de Barbados que decepa um alemão que o acusa de furto e tenta matá-lo, e
a do índio que tem suas mãos amputadas após ser descoberto como o
verdadeiro responsável pelo desaparecimento de objetos pessoais de
irrisório valor material no acampamento, que provocava desavenças entre
os trabalhadores. A vida desses estrangeiros recrutados para a
construção da Madeira-Mamoré se tornou tão desvalorizada pelo baixo
salário e pelas péssimas condições de trabalho e de acomodação que eles
chegam facilmente à insanidade de - literalmente - perder a cabeça por
causa de uma simples camisa ou de se arriscar a contrair malária,
abrindo mão do medicamento diário em troca de algum dinheiro extra.
Além
do rastro de mortes deixado pela construção da ferrovia, há
contrapontos na narrativa que atenuam o ambiente de insanidade infernal
no acampamento. Até o sisudo engenheiro Collier, com seu ácido humor
inglês, nos diálogos com o amigo Thomas, o maquinista norte-americano
que trabalhou com ele em outras empreitadas, se torna uma pessoa amável.
O contraponto mais nítido se personifica em Consuelo, a pianista
boliviana que é levada ao acampamento após ser encontrada ferida e
desacordada no meio da selva, e que uma vez alojada na enfermaria,
mantém uma relação ambígua com o índio de mãos amputadas e com o jovem e
metódico doutor Finnegan.
A
exemplo do que fizeram grandes nomes da literatura brasileira - como
Antonio Callado, em Quarup, Rubem Fonseca, em Agosto, e Érico Veríssimo,
em O Tempo e o Vento - o escritor amazonense Márcio Souza narra em Mad
Maria um momento histórico do país, alternando a saga de personagens
fictícios com a trama vivida por personagens reais, como o mega
empresário norte-americano Percival Farqhuar, proprietário da
Madeira-Mamoré Railway Company e de diversas concessões públicas no
Brasil, entre portos, ferrovias e companhias elétricas. Essa trama
envolve, além de Farqhuar, as altas esferas do poder público, incluindo o
então ministro de Viações e Obras e futuro governador da Bahia, J. J.
Seabra, com quem o empresário norte-americano "compartilha" uma amante.
Esse, aliás, é um estereótipo usado por Souza para caracterizar as altas
esferas do poder no universo do romance: nem mesmo o célebre jurista
Ruy Barbosa, já septuagenário e em decadência política após perder a
disputa da presidência para o Marechal Hermes da Fonseca, escapa de ter a
sua amante.
Tirando
alguns exageros, como a queda de árvores de cinco metros de raio (!)
sobre os trilhos da ferrovia, e o hino norte-americano sendo tocado ao
piano com os pés pelo índio de mãos amputadas, Mad Maria ainda assim é
um bom romance que resgata esse trágico episódio envolvendo o capital
estrangeiro tentando rasgar a selva com o progresso dos trilhos às
custas de milhares de mortes. Entre os legados dessa empreitada
norte-americana no Brasil está a cidade de Porto Velho, atual capital de
Rondônia, erguida em 1907 durante a construção da Madeira-Mamoré e que
substituiu a cidade de Santo Antônio como ponto inicial da ferrovia.
Sucateada na década de 70, a estrada de ferro teve seus trechos iniciais
recuperados para fins turísticos nos anos 80, mas hoje está totalmente
desativada. A louca Maria, abandonada, há muito já não reina sobre os
trilhos amazônicos e não joga sua fumaça pela selva desbravada.
FONTE: Rodrigo Cunha
EDIÇÕES DE MAD MARIA
SOUZA, M. Mad Maria. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 346 p |
SOUZA, M. Mad Maria. 2ed . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 346 p. |
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SOUZA, M. Mad Maria. 3. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1985. 349 p. |
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Editado em Novembro de 2012 - Agosto de 2014 - Agosto de 2018
Obra culta num pais oposto!
ResponderExcluirOnde conseguir alguns exemplares?
Obrigado
M nunes
Na estante virtual tem varios sebos que tem ofertas destes livros do Márcio Souza
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