Violeta Branca Menescal de Vasconcelos, manauara, nascida no dia 15 de setembro de 1915 e falecVioleta Branca Menescal de Vasconcelos, manauara, nascida no dia 15 de setembro de 1915 e faleceu no Rio de Janeiro, em 7 de outubro de 2000. Teve quatro filhos.
"O beijo que deste no meu pulso
cobriu de angústia
a forma imaterial dos meus sentidos.
Não percebeste o latejar das veias
ao contato de teus lábios,
e nem advinhaste
que foi o prazer que me fez silenciar..."
BRANCA, Violeta. Reencontro - poemas de ontem e de hoje. 2ª. edição. Manaus, AM: Academia Amazonense de Letras; Edições Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado da Cultura, 2012. 146 p. (Série Violeta Branca, v. 8) 15x21 cm. ISBN 978-85-64218-29-1
Ritmos de inquieta alegria é uma obra que se define pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Compõe-se de poemas em que se destaca a ânsia de vida e liberdade, associadas a um forte desejo de descoberta dos mistérios do mundo. É um livro expressivo de um espírito irresignado, jovem e ousado. Violeta Branca, ao publicá-lo, em 1935, aos dezenove anos, surge para a literatura como uma poetisa promissora. O livro mereceu uma apreciação entusiasmada do saudoso intelectual Rodrigo Octavio e boa acolhida por parte da crítica.
Fonte: em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2010/12/violeta-branca-poetisado-amazonas.html>. Acesso em 10 abr. 2018.
Ritmos de inquieta alegria / Violeta Branca ; organização e estudo crítico Tenório Telles.
Por: Branca, Violeta.
Colaborador(es):Telles, Tenório.
Série: Resgate ; 1.
Editora: Manaus : Valer : ; Edições Governo do Estado, 1997
Ocuparam-se de sua obra, dentre outros, Genesino Braga, Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, tendo merecido , de Almir Diniz, em seu livro Mulheres, a homenagem de um soneto intitulado Canto de Liberdade. Não são poucas, contudo, as homenagens que ela tem recebido no decorrer destes últimos dez anos, destacando-se, para estudo e consulta, Violeta Branca (O poetismo de vanguarda), ensaio e documentário de Carmen Novoa Silva, de quem foi amiga até a data de seu trespasse. Vale a pena reler este livro, no qual, também, comparece uma transcrição da Antologia Poética da Mulher Amazonense, do escritor Danilo Du Silvan, editada em 1984. Embora sem os recursos formais de Cecília Meireles, nem, também, sua profundidade conceitual diante do mundo, Violeta Branca, afinal, segundo Tenório Telles, pertence à primeira fase do modernismo. ¨Seu discurso poético é fluido, despojado de qualquer pretensão acadêmica¨, conclui esse mestre. Feminina, inclusive, não nos parece, em nenhum momento, preocupada com o gênero de sua própria inquietação lírica ou existencial, enfatizando, sobretudo, a monumentalidade interior que se apressa a fazer de seu canto um jornal de surdinas e confidências, algumas vezes pueris, mas sempre como se estivesse entre árvores e pássaros. Jorge Tufic
Editora Valer – Poesia
Ritmos de inquieta alegria
Sob vários aspectos o livro “Ritmos de inquieta alegria”, de Violeta Branca, merece uma reflexão. Comecemos pelo nome da poetisa – Violeta Branca. Olho para um pequeno vaso pleno de violetas brancas, delicadas e frágeis. Vejo-as sorrirem para os que as possam contemplar. Elas são pequenas, cálidas, parecem não suportar o menor toque, nem mesmo do vento, e podem florir, se forem respeitados os cuidados necessários, durante o ano inteiro. Quanto ao perfume, não exalam um perfume forte, normalmente é despercebido.
Não sei por qual ou quais razões, a criança nascida no dia 15 de setembro de 1915 (virginiana) recebeu o sugestivo nome. Além do mais, ele contrasta profundamente com algumas facetas que se apresentam neste livro, possivelmente o primeiro a ser publicado por uma mulher na literatura amazonense – no ano de 1935, quando tinha 19 anos. No ano de 1937, ela ingressou na Academia Amazonense de Letras.
O “Ritmos de inquieta alegria” abre com o poema ‘Minha lenda’, no qual a poetisa afirma que ela, por decisão de Tupã, tornou-se Iara, mas o amor por um homem fê-la mulher. Isso significa que o amor é a força humanizadora que civiliza e que harmoniza os encontros nesta Terra.
O poema ‘Inquietação’ traz versos especialmente belos, por exemplo: ‘Tenho a inquietação de um pássaro entontecido / dançando no azul / das águas que escorrem pelas pedras dos rochedos / na vertigem louca de se atirarem / ao precipício misterioso...’
Violeta Branca inscreve na sua poesia os elementos modernistas, todavia sabemos que não é correto enfeixarmos uma manifestação artística num quadro pré-determinado, melhor é dizermos que ela manifesta um conjunto de inquietações e incorpora uma visão própria do período em que vivia. É essencialmente essa atitude experimentada na sua poesia que lhe dá um lugar na literatura. Ela é, conforme Krüger, no Prefácio desta obra, a principal ou talvez a única modernista no Amazonas. Seja exemplo o ‘Poema agreste’:
Guerreiro audaz, que te enfeitas
de penas coloridas e cobras coleantes,
que andas com o corpo
ágil como flechas
e moreno como o sol,
inteiramente nu,
Os elementos da região amazônica se impõem e elevam o índio, tratado usualmente como ser inferior, para a plenitude da beleza de si e de sua terra. Trata-se de uma voz modernista, mas outros elementos chegam aqui para se solidarizar em Palavra.
Quando Violeta Branca escreveu seu “Ritmos de inquieta alegria”, ela era muito jovem, mas nela já se acumulavam a sonhadora e delicada mulher e a ousadia de uma poetisa que procurava um substrato no mundo da Palavra. No poema ‘Ritmo’, ela diz-nos como faz seus poemas que, ao contrário do que expressa, ultrapassam a aparente ingenuidade.
O ritmo, que luminosamente
a minha arte embala,
é claro e alegre
como uma festa infantil.
É simples, como a fala
ingênua e despretensiosa de uma colegial,
de passo leve e saltitante,
que canta, andando na calçada,
a canção da alegria matinal...
A poetisa, conforme lemos os seus poemas, não poderia se expressar de outra forma, senão em versos livres, pois a liberdade não suporta amarras ou cercaduras. Mas, como já disse, não é a menina que esvoaça pelas calçadas, levada pela poesia, uma poetisa que não tem consciência daquilo que cria. Ela é tanto insegura quanto de uma força que causa pasmo e admiração, pois pensemos na Manaus da década de 1930. À medida que a vamos lendo, daí o bom trabalho do coordenador do livro, Tenório Telles, ela cresce em ousadia. Seu peito arfa para libertar a Palavra que nele se aprisiona.
O poema ‘Eu’ traz alguns dos versos mais fortes do livro:
A exaltação universal
trago-a
quente e vermelha,
em cada gota de meu sangue.
No meu cérebro
passam, numa rapidez inquieta,
de navalhas, ferindo,
os pensamentos,
que nem todos podem pensar.
A ressurreição
da claridade delirante de todos os dias de sol
corre em algemas gritantes
pelos meus gestos expressivos.
Meus nervos,
− cobras vibrantes – enroscam-se
pelas árvores brancas e sonoras
de meu corpo jovem
e deixam restos de sensações fortes
na selva emocional
de minha alma!
Eu tenho uma sensibilidade de punhal!
E nos meus poemas
dança, em alegorias bizarras
e movimentos novos,
toda a instintiva
e incontida
volúpia universal!
O poema ‘Eu’ contrasta com ‘Ritmo’. Nele já não mais fala a jovenzinha livre e saltitante, mas a poetisa altaneira que aspira ao universal e que nos dá um dos belos perfis do poeta e da sua inquietação. No meu entendimento, duas poetisas nesses versos se embatem: aquela que justifica a sua poesia, com bastante insegurança e com severas oscilações. A segunda é segura da sua condição, que não vê para si outro caminho senão o de escrever versos. É ela quem diz que "Eu tenho uma sensibilidade de punhal!".
E ainda, atentemos para esses versos, em ‘Dois tankas de minha terra’:
Nos poemas que ora escrevo
não há, como outrora,
a suavidade de um enlevo...
São ardentes, tropicais:
têm o cheiro de terra molhada
e o gosto das frutas maduras...
É assim que nos deixou poemas ou versos de extrema força e beleza. É por isso que Violeta Branca, de quem temos somente dois livros publicados – “Ritmos de inquieta alegria” (1935) e “Reencontros” (1882), merece ser ouvida como expressão da poesia e pela particularidade como ela compreende a existência.
Para terminar, em ‘Iniciação’ minha breves palavras, a jovem poetisa repete a inquietação de todos os artistas:
Eu não sei quem foi que veio
com as mãos em luz
incendiar de emoção
os cipós flexíveis dos meus nervos.
Eu não sei quem foi que veio
jogar pedras de alegria
na água dormente de minha inquietação...
Eu não sei quem foi...
Talvez fosse melhor não ser poeta, mas Violeta Branca é, e merece ser lida: pelos versos exuberantes e também delicados, pela ousadia com que enfrentou uma sociedade como a amazonense na década de 1930, por mostrar sem medo a juventude que inquietava todo o seu corpo. No mais, seu nome já é um início para se falar de poesia.
Neiza Teixeira
Autora de “Para aquém ou para além de nós.
Os autores e o tema Amazônia são meu foco.
O livro da Violeta Branca, na realidade um livreto de 24 paginas - Concerto a quatro mão - Opus de Violeta Branca e Andrade Melo é fato. Eu possuo uma copia do mesmo. Foi publicado em 1981, pela Gráfica Editora Arte Moderna. Tem um poema neste livreto que gosto bastante, como não conheço os outros livros na integra não sei se já estava publicado.
A culpa de Deus
(Violeta Branca)
Que culpa tenho se Deus
me fez de sal e de mel
e de estrelas me deu
uma coroa e o anel
que brilha na minha mão ?
Que culpa tenho se Ele
me ensinou o caminho
azul de outro e arminho
que leva à inspiração ?
Que culpa tenho se Deus
ao ampliar os meus dias
criou também fantasias
de luas, pássaros, flores,
e me doou poesias
para dizê-las nas horas
das minhas vertigens de amor ? eu no Rio de Janeiro, em 7 de outubro de 2000. Teve quatro filhos. É considerada uma das primeiras poetizas do modernismo e a primeira mulher a ingressar numa Academia de letras no Brasil (1937). Seus poemas estao reunidos dois livros: Ritmos de Inquieta Alegria (1935) e Reencontro: poemas de ontem e de hoje (1982)em tres livros.
Em 1935, aos 19 anos, publicou seu primeiro livro de poesia, Ritmos de Inquieta Alegria, obra com características modernistas, que mereceu uma apreciação entusiasmada do intelectual paulista Rodrigo Octávio e boa acolhida por parte da crítica, pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Esse livro foi relançado em 1998 com a coleção Resgate, pela editora Valer. Dois anos depois, Violeta casa-se e muda-se para o Rio de Janeiro mas continua publicando seus poemas na revista Cabocla em 1936 e na revista A Selva, nos anos 1937-1938, dirigida por Clóvis Barbosa (1904-1989). Em 1939 publicou poemas
no jornal A Tarde que pertencia a Aristophano Antony e em 1962 apareceram algumas publicações de poemas pertencentes a Violeta Branca em O Jornal. Em 1982 publica em parceria com o o . Após 47 anos, em 1982, publicou Reencontros - Poemas de Ontem e de Hoje, seu segundo e último livro.
O reconhecimento do talento precoce de Violeta Branca fez dela a primeira mulher a entrar para uma Academia de Letras no país. Assim, em 14 de abril de 1937, Violeta Branca passa a fazer parte da Academia Amazonense de Letras ocupando a cadeira 28, anteriormente ocupada pelos poetas Raimundo Monteiro, Hugo Bellard e Américo Antony, e que teve como patrono o poeta Annibal Theóphilo (DINIZ, 2002). Durante muitos anos, Violeta representou a AAL na Federação das Academias de Letras do Brasil, no Rio de Janeiro, onde residia.
A obra Ritmos de Inquieta Alegria reúne poemas "de uma alma ainda adolescente" (A Crítica, 11/10/2000), mas cheia de surpresas. Além do universo amazônico e seus mistérios, a sensualidade, um tema ousado para a mulher da época, também está presente na poesia de Violeta Branca, o que causou certo impacto no meio literário amazonense. Fragmentos respectivos de Tankas de Minha Terra e Volúpia ilustram essas temáticas
"Eu quisera ter os braços muito longos,
mais longos que as palmeiras esguias destas zonas,
maiores que as cobras grandes,
maiores, até, que os rios"
Os poemas que a musa amazonense reunira em Ritmos de Inquieta Alegria tiveram os encômios de um dos pontífices das letras pátrias, prestigiosa figura da Academia Brasileira de Letras: Rodrigo Octavio, que neles vira (não obstante sua posição antagônica ao movimento modernista) “versos heroicos, triunfais, nervosos”, para em seguida acentuar, no longo texto com que prefaciara o livro: “a leitura deles me encantou, como encantará a quem os tome em momento de plena disposição de
espírito [...]” (BRANCA, 2012, p. 21).
"O beijo que deste no meu pulso
cobriu de angústia
a forma imaterial dos meus sentidos.
Não percebeste o latejar das veias
ao contato de teus lábios,
e nem advinhaste
que foi o prazer que me fez silenciar..."
BRANCA, Violeta. Reencontro - poemas de ontem e de hoje. 2ª. edição. Manaus, AM: Academia Amazonense de Letras; Edições Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado da Cultura, 2012. 146 p. (Série Violeta Branca, v. 8) 15x21 cm. ISBN 978-85-64218-29-1
BRANCA, Violeta. Ritmos de inquieta alegria. Organização e estudo crítico Tenório Telles. 2ª. edição, revista e aumentada. Manaus, AM: Editora Valer, 1997. 116 p. (Série Coleção Resgate, 1) 14x21 cm. Capa: Álvaro Marques. Foto: Leonide Principe. Apresentação de Marcos-Frederico Krüger. ISBN 85-86512-02-8
Ritmos de inquieta alegria é uma obra que se define pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Compõe-se de poemas em que se destaca a ânsia de vida e liberdade, associadas a um forte desejo de descoberta dos mistérios do mundo. É um livro expressivo de um espírito irresignado, jovem e ousado. Violeta Branca, ao publicá-lo, em 1935, aos dezenove anos, surge para a literatura como uma poetisa promissora. O livro mereceu uma apreciação entusiasmada do saudoso intelectual Rodrigo Octavio e boa acolhida por parte da crítica.
Fonte: em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2010/12/violeta-branca-poetisado-amazonas.html>. Acesso em 10 abr. 2018.
Ritmos de inquieta alegria / Violeta Branca ; organização e estudo crítico Tenório Telles.
Por: Branca, Violeta.
Colaborador(es):Telles, Tenório.
Série: Resgate ; 1.
Editora: Manaus : Valer : ; Edições Governo do Estado, 1997
Ocuparam-se de sua obra, dentre outros, Genesino Braga, Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, tendo merecido , de Almir Diniz, em seu livro Mulheres, a homenagem de um soneto intitulado Canto de Liberdade. Não são poucas, contudo, as homenagens que ela tem recebido no decorrer destes últimos dez anos, destacando-se, para estudo e consulta, Violeta Branca (O poetismo de vanguarda), ensaio e documentário de Carmen Novoa Silva, de quem foi amiga até a data de seu trespasse. Vale a pena reler este livro, no qual, também, comparece uma transcrição da Antologia Poética da Mulher Amazonense, do escritor Danilo Du Silvan, editada em 1984. Embora sem os recursos formais de Cecília Meireles, nem, também, sua profundidade conceitual diante do mundo, Violeta Branca, afinal, segundo Tenório Telles, pertence à primeira fase do modernismo. ¨Seu discurso poético é fluido, despojado de qualquer pretensão acadêmica¨, conclui esse mestre. Feminina, inclusive, não nos parece, em nenhum momento, preocupada com o gênero de sua própria inquietação lírica ou existencial, enfatizando, sobretudo, a monumentalidade interior que se apressa a fazer de seu canto um jornal de surdinas e confidências, algumas vezes pueris, mas sempre como se estivesse entre árvores e pássaros. Jorge Tufic
Editora Valer – Poesia
Ritmos de inquieta alegria
Sob vários aspectos o livro “Ritmos de inquieta alegria”, de Violeta Branca, merece uma reflexão. Comecemos pelo nome da poetisa – Violeta Branca. Olho para um pequeno vaso pleno de violetas brancas, delicadas e frágeis. Vejo-as sorrirem para os que as possam contemplar. Elas são pequenas, cálidas, parecem não suportar o menor toque, nem mesmo do vento, e podem florir, se forem respeitados os cuidados necessários, durante o ano inteiro. Quanto ao perfume, não exalam um perfume forte, normalmente é despercebido.
Não sei por qual ou quais razões, a criança nascida no dia 15 de setembro de 1915 (virginiana) recebeu o sugestivo nome. Além do mais, ele contrasta profundamente com algumas facetas que se apresentam neste livro, possivelmente o primeiro a ser publicado por uma mulher na literatura amazonense – no ano de 1935, quando tinha 19 anos. No ano de 1937, ela ingressou na Academia Amazonense de Letras.
O “Ritmos de inquieta alegria” abre com o poema ‘Minha lenda’, no qual a poetisa afirma que ela, por decisão de Tupã, tornou-se Iara, mas o amor por um homem fê-la mulher. Isso significa que o amor é a força humanizadora que civiliza e que harmoniza os encontros nesta Terra.
O poema ‘Inquietação’ traz versos especialmente belos, por exemplo: ‘Tenho a inquietação de um pássaro entontecido / dançando no azul / das águas que escorrem pelas pedras dos rochedos / na vertigem louca de se atirarem / ao precipício misterioso...’
Violeta Branca inscreve na sua poesia os elementos modernistas, todavia sabemos que não é correto enfeixarmos uma manifestação artística num quadro pré-determinado, melhor é dizermos que ela manifesta um conjunto de inquietações e incorpora uma visão própria do período em que vivia. É essencialmente essa atitude experimentada na sua poesia que lhe dá um lugar na literatura. Ela é, conforme Krüger, no Prefácio desta obra, a principal ou talvez a única modernista no Amazonas. Seja exemplo o ‘Poema agreste’:
Guerreiro audaz, que te enfeitas
de penas coloridas e cobras coleantes,
que andas com o corpo
ágil como flechas
e moreno como o sol,
inteiramente nu,
Os elementos da região amazônica se impõem e elevam o índio, tratado usualmente como ser inferior, para a plenitude da beleza de si e de sua terra. Trata-se de uma voz modernista, mas outros elementos chegam aqui para se solidarizar em Palavra.
Quando Violeta Branca escreveu seu “Ritmos de inquieta alegria”, ela era muito jovem, mas nela já se acumulavam a sonhadora e delicada mulher e a ousadia de uma poetisa que procurava um substrato no mundo da Palavra. No poema ‘Ritmo’, ela diz-nos como faz seus poemas que, ao contrário do que expressa, ultrapassam a aparente ingenuidade.
O ritmo, que luminosamente
a minha arte embala,
é claro e alegre
como uma festa infantil.
É simples, como a fala
ingênua e despretensiosa de uma colegial,
de passo leve e saltitante,
que canta, andando na calçada,
a canção da alegria matinal...
A poetisa, conforme lemos os seus poemas, não poderia se expressar de outra forma, senão em versos livres, pois a liberdade não suporta amarras ou cercaduras. Mas, como já disse, não é a menina que esvoaça pelas calçadas, levada pela poesia, uma poetisa que não tem consciência daquilo que cria. Ela é tanto insegura quanto de uma força que causa pasmo e admiração, pois pensemos na Manaus da década de 1930. À medida que a vamos lendo, daí o bom trabalho do coordenador do livro, Tenório Telles, ela cresce em ousadia. Seu peito arfa para libertar a Palavra que nele se aprisiona.
O poema ‘Eu’ traz alguns dos versos mais fortes do livro:
A exaltação universal
trago-a
quente e vermelha,
em cada gota de meu sangue.
No meu cérebro
passam, numa rapidez inquieta,
de navalhas, ferindo,
os pensamentos,
que nem todos podem pensar.
A ressurreição
da claridade delirante de todos os dias de sol
corre em algemas gritantes
pelos meus gestos expressivos.
Meus nervos,
− cobras vibrantes – enroscam-se
pelas árvores brancas e sonoras
de meu corpo jovem
e deixam restos de sensações fortes
na selva emocional
de minha alma!
Eu tenho uma sensibilidade de punhal!
E nos meus poemas
dança, em alegorias bizarras
e movimentos novos,
toda a instintiva
e incontida
volúpia universal!
O poema ‘Eu’ contrasta com ‘Ritmo’. Nele já não mais fala a jovenzinha livre e saltitante, mas a poetisa altaneira que aspira ao universal e que nos dá um dos belos perfis do poeta e da sua inquietação. No meu entendimento, duas poetisas nesses versos se embatem: aquela que justifica a sua poesia, com bastante insegurança e com severas oscilações. A segunda é segura da sua condição, que não vê para si outro caminho senão o de escrever versos. É ela quem diz que "Eu tenho uma sensibilidade de punhal!".
E ainda, atentemos para esses versos, em ‘Dois tankas de minha terra’:
Nos poemas que ora escrevo
não há, como outrora,
a suavidade de um enlevo...
São ardentes, tropicais:
têm o cheiro de terra molhada
e o gosto das frutas maduras...
É assim que nos deixou poemas ou versos de extrema força e beleza. É por isso que Violeta Branca, de quem temos somente dois livros publicados – “Ritmos de inquieta alegria” (1935) e “Reencontros” (1882), merece ser ouvida como expressão da poesia e pela particularidade como ela compreende a existência.
Para terminar, em ‘Iniciação’ minha breves palavras, a jovem poetisa repete a inquietação de todos os artistas:
Eu não sei quem foi que veio
com as mãos em luz
incendiar de emoção
os cipós flexíveis dos meus nervos.
Eu não sei quem foi que veio
jogar pedras de alegria
na água dormente de minha inquietação...
Eu não sei quem foi...
Talvez fosse melhor não ser poeta, mas Violeta Branca é, e merece ser lida: pelos versos exuberantes e também delicados, pela ousadia com que enfrentou uma sociedade como a amazonense na década de 1930, por mostrar sem medo a juventude que inquietava todo o seu corpo. No mais, seu nome já é um início para se falar de poesia.
Neiza Teixeira
Autora de “Para aquém ou para além de nós.
Os autores e o tema Amazônia são meu foco.
O livro da Violeta Branca, na realidade um livreto de 24 paginas - Concerto a quatro mão - Opus de Violeta Branca e Andrade Melo é fato. Eu possuo uma copia do mesmo. Foi publicado em 1981, pela Gráfica Editora Arte Moderna. Tem um poema neste livreto que gosto bastante, como não conheço os outros livros na integra não sei se já estava publicado.
A culpa de Deus
(Violeta Branca)
Que culpa tenho se Deus
me fez de sal e de mel
e de estrelas me deu
uma coroa e o anel
que brilha na minha mão ?
Que culpa tenho se Ele
me ensinou o caminho
azul de outro e arminho
que leva à inspiração ?
Que culpa tenho se Deus
ao ampliar os meus dias
criou também fantasias
de luas, pássaros, flores,
e me doou poesias
para dizê-las nas horas
das minhas vertigens de amor ?
É considerada uma das primeiras poetizas do modernismo e a primeira mulher a ingressar numa Academia de letras no Brasil (1937). Seus poemas estao reunidos dois livros: Ritmos de Inquieta Alegria (1935) e Reencontro: poemas de ontem e de hoje (1982)em tres livros. Em 1935, aos 19 anos, publicou seu primeiro livro de poesia, Ritmos de Inquieta Alegria, obra com características modernistas, que mereceu uma apreciação entusiasmada do intelectual paulista Rodrigo Octávio e boa acolhida por parte da crítica, pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Esse livro foi relançado em 1998 com a coleção Resgate, pela editora Valer. Dois anos depois, Violeta casa-se e muda-se para o Rio de Janeiro mas continua publicando seus poemas na revista Cabocla em 1936 e na revista A Selva, nos anos 1937-1938, dirigida por Clóvis Barbosa (1904-1989). Em 1939 publicou poemas no jornal A Tarde que pertencia a Aristophano Antony e em 1962 apareceram algumas publicações de poemas pertencentes a Violeta Branca em O Jornal. Em 1982 publica em parceria com Andrade Bello um livreto de 24 pg - Concerto a quatro mão - Opus 3. Após 47 anos, em 1982, publicou Reencontros - Poemas de Ontem e de Hoje, seu segundo e último livro.
O reconhecimento do talento precoce de Violeta Branca fez dela a primeira mulher a entrar para uma Academia de Letras no país. Assim, em 14 de abril de 1937, Violeta Branca passa a fazer parte da Academia Amazonense de Letras ocupando a cadeira 28, anteriormente ocupada pelos poetas Raimundo Monteiro, Hugo Bellard e Américo Antony, e que teve como patrono o poeta Annibal Theóphilo (DINIZ, 2002). Durante muitos anos, Violeta representou a AAL na Federação das Academias de Letras do Brasil, no Rio de Janeiro, onde residia.
A obra Ritmos de Inquieta Alegria reúne poemas "de uma alma ainda adolescente" (A Crítica, 11/10/2000), mas cheia de surpresas. Além do universo amazônico e seus mistérios, a sensualidade, um tema ousado para a mulher da época, também está presente na poesia de Violeta Branca, o que causou certo impacto no meio literário amazonense.
Os poemas que a musa amazonense reunira em Ritmos de Inquieta Alegria tiveram os encômios de um dos pontífices das letras pátrias, prestigiosa figura da Academia Brasileira de Letras: Rodrigo Octavio, que neles vira (não obstante sua posição antagônica ao movimento modernista) “versos heroicos, triunfais, nervosos”, para em seguida acentuar, no longo texto com que prefaciara o livro: “a leitura deles me encantou, como encantará a quem os tome em momento de plena disposição de espírito [...]” (BRANCA, 2012, p. 21).
"O beijo que deste no meu pulso
cobriu de angústia
a forma imaterial dos meus sentidos.
Não percebeste o latejar das veias
ao contato de teus lábios,
e nem advinhaste
que foi o prazer que me fez silenciar..."
BRANCA, Violeta. Reencontro - poemas de ontem e de hoje. 2ª. edição. Manaus, AM: Academia Amazonense de Letras; Edições Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado da Cultura, 2012. 146 p. (Série Violeta Branca, v. 8) 15x21 cm. ISBN 978-85-64218-29-1
BRANCA, Violeta. Ritmos de inquieta alegria. 2. edição, revista e aumentada. Manaus, AM: Editora Valer, 1997. 116 p. (Série Coleção Resgate, 1). ISBN 85-86512-02. Fonte: Catador de livros |
Ritmos de inquieta alegria é uma obra que se define pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Compõe-se de poemas em que se destaca a ânsia de vida e liberdade, associadas a um forte desejo de descoberta dos mistérios do mundo. É um livro expressivo de um espírito irresignado, jovem e ousado. Violeta Branca, ao publicá-lo, em 1935, aos dezenove anos, surge para a literatura como uma poetisa promissora. O livro mereceu uma apreciação entusiasmada do saudoso intelectual Rodrigo Octavio e boa acolhida por parte da crítica.
Fonte: em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2010/12/violeta-branca-poetisado-amazonas.html>. Acesso em 10 abr. 2018.
Ritmos de inquieta alegria / Violeta Branca ; organização e estudo crítico Tenório Telles.
Por: Branca, Violeta.
Colaborador(es):Telles, Tenório.
Série: Resgate ; 1.
Editora: Manaus : Valer : ; Edições Governo do Estado, 1997
Ocuparam-se de sua obra, dentre outros, Genesino Braga, Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, tendo merecido , de Almir Diniz, em seu livro Mulheres, a homenagem de um soneto intitulado Canto de Liberdade. Não são poucas, contudo, as homenagens que ela tem recebido no decorrer destes últimos dez anos, destacando-se, para estudo e consulta, Violeta Branca (O poetismo de vanguarda), ensaio e documentário de Carmen Novoa Silva, de quem foi amiga até a data de seu trespasse. Vale a pena reler este livro, no qual, também, comparece uma transcrição da Antologia Poética da Mulher Amazonense, do escritor Danilo Du Silvan, editada em 1984. Embora sem os recursos formais de Cecília Meireles, nem, também, sua profundidade conceitual diante do mundo, Violeta Branca, afinal, segundo Tenório Telles, pertence à primeira fase do modernismo. ¨Seu discurso poético é fluido, despojado de qualquer pretensão acadêmica¨, conclui esse mestre. Feminina, inclusive, não nos parece, em nenhum momento, preocupada com o gênero de sua própria inquietação lírica ou existencial, enfatizando, sobretudo, a monumentalidade interior que se apressa a fazer de seu canto um jornal de surdinas e confidências, algumas vezes pueris, mas sempre como se estivesse entre árvores e pássaros. Jorge Tufic
Editora Valer – Poesia
Ritmos de inquieta alegria
Sob vários aspectos o livro “Ritmos de inquieta alegria”, de Violeta Branca, merece uma reflexão. Comecemos pelo nome da poetisa – Violeta Branca. Olho para um pequeno vaso pleno de violetas brancas, delicadas e frágeis. Vejo-as sorrirem para os que as possam contemplar. Elas são pequenas, cálidas, parecem não suportar o menor toque, nem mesmo do vento, e podem florir, se forem respeitados os cuidados necessários, durante o ano inteiro. Quanto ao perfume, não exalam um perfume forte, normalmente é despercebido.
Não sei por qual ou quais razões, a criança nascida no dia 15 de setembro de 1915 (virginiana) recebeu o sugestivo nome. Além do mais, ele contrasta profundamente com algumas facetas que se apresentam neste livro, possivelmente o primeiro a ser publicado por uma mulher na literatura amazonense – no ano de 1935, quando tinha 19 anos. No ano de 1937, ela ingressou na Academia Amazonense de Letras.
O “Ritmos de inquieta alegria” abre com o poema ‘Minha lenda’, no qual a poetisa afirma que ela, por decisão de Tupã, tornou-se Iara, mas o amor por um homem fê-la mulher. Isso significa que o amor é a força humanizadora que civiliza e que harmoniza os encontros nesta Terra.
O poema ‘Inquietação’ traz versos especialmente belos, por exemplo: ‘Tenho a inquietação de um pássaro entontecido / dançando no azul / das águas que escorrem pelas pedras dos rochedos / na vertigem louca de se atirarem / ao precipício misterioso...’
Violeta Branca inscreve na sua poesia os elementos modernistas, todavia sabemos que não é correto enfeixarmos uma manifestação artística num quadro pré-determinado, melhor é dizermos que ela manifesta um conjunto de inquietações e incorpora uma visão própria do período em que vivia. É essencialmente essa atitude experimentada na sua poesia que lhe dá um lugar na literatura. Ela é, conforme Krüger, no Prefácio desta obra, a principal ou talvez a única modernista no Amazonas. Seja exemplo o ‘Poema agreste’:
Guerreiro audaz, que te enfeitas
de penas coloridas e cobras coleantes,
que andas com o corpo
ágil como flechas
e moreno como o sol,
inteiramente nu,
Os elementos da região amazônica se impõem e elevam o índio, tratado usualmente como ser inferior, para a plenitude da beleza de si e de sua terra. Trata-se de uma voz modernista, mas outros elementos chegam aqui para se solidarizar em Palavra.
Quando Violeta Branca escreveu seu “Ritmos de inquieta alegria”, ela era muito jovem, mas nela já se acumulavam a sonhadora e delicada mulher e a ousadia de uma poetisa que procurava um substrato no mundo da Palavra. No poema ‘Ritmo’, ela diz-nos como faz seus poemas que, ao contrário do que expressa, ultrapassam a aparente ingenuidade.
O ritmo, que luminosamente
a minha arte embala,
é claro e alegre
como uma festa infantil.
É simples, como a fala
ingênua e despretensiosa de uma colegial,
de passo leve e saltitante,
que canta, andando na calçada,
a canção da alegria matinal...
A poetisa, conforme lemos os seus poemas, não poderia se expressar de outra forma, senão em versos livres, pois a liberdade não suporta amarras ou cercaduras. Mas, como já disse, não é a menina que esvoaça pelas calçadas, levada pela poesia, uma poetisa que não tem consciência daquilo que cria. Ela é tanto insegura quanto de uma força que causa pasmo e admiração, pois pensemos na Manaus da década de 1930. À medida que a vamos lendo, daí o bom trabalho do coordenador do livro, Tenório Telles, ela cresce em ousadia. Seu peito arfa para libertar a Palavra que nele se aprisiona.
O poema ‘Eu’ traz alguns dos versos mais fortes do livro:
A exaltação universal
trago-a
quente e vermelha,
em cada gota de meu sangue.
No meu cérebro
passam, numa rapidez inquieta,
de navalhas, ferindo,
os pensamentos,
que nem todos podem pensar.
A ressurreição
da claridade delirante de todos os dias de sol
corre em algemas gritantes
pelos meus gestos expressivos.
Meus nervos,
− cobras vibrantes – enroscam-se
pelas árvores brancas e sonoras
de meu corpo jovem
e deixam restos de sensações fortes
na selva emocional
de minha alma!
Eu tenho uma sensibilidade de punhal!
E nos meus poemas
dança, em alegorias bizarras
e movimentos novos,
toda a instintiva
e incontida
volúpia universal!
O poema ‘Eu’ contrasta com ‘Ritmo’. Nele já não mais fala a jovenzinha livre e saltitante, mas a poetisa altaneira que aspira ao universal e que nos dá um dos belos perfis do poeta e da sua inquietação. No meu entendimento, duas poetisas nesses versos se embatem: aquela que justifica a sua poesia, com bastante insegurança e com severas oscilações. A segunda é segura da sua condição, que não vê para si outro caminho senão o de escrever versos. É ela quem diz que "Eu tenho uma sensibilidade de punhal!".
E ainda, atentemos para esses versos, em ‘Dois tankas de minha terra’:
Nos poemas que ora escrevo
não há, como outrora,
a suavidade de um enlevo...
São ardentes, tropicais:
têm o cheiro de terra molhada
e o gosto das frutas maduras...
É assim que nos deixou poemas ou versos de extrema força e beleza. É por isso que Violeta Branca, de quem temos somente dois livros publicados – “Ritmos de inquieta alegria” (1935) e “Reencontros” (1882), merece ser ouvida como expressão da poesia e pela particularidade como ela compreende a existência.
Para terminar, em ‘Iniciação’ minha breves palavras, a jovem poetisa repete a inquietação de todos os artistas:
Eu não sei quem foi que veio
com as mãos em luz
incendiar de emoção
os cipós flexíveis dos meus nervos.
Eu não sei quem foi que veio
jogar pedras de alegria
na água dormente de minha inquietação...
Eu não sei quem foi...
Talvez fosse melhor não ser poeta, mas Violeta Branca é, e merece ser lida: pelos versos exuberantes e também delicados, pela ousadia com que enfrentou uma sociedade como a amazonense na década de 1930, por mostrar sem medo a juventude que inquietava todo o seu corpo. No mais, seu nome já é um início para se falar de poesia.
Neiza Teixeira
Autora de “Para aquém ou para além de nós.
Os autores e o tema Amazônia são meu foco.
O livro da Violeta Branca, na realidade um livreto de 24 paginas - Concerto a quatro mão - Opus de Violeta Branca e Andrade Melo é fato. Eu possuo uma copia do mesmo. Foi publicado em 1981, pela Gráfica Editora Arte Moderna. Tem um poema neste livreto que gosto bastante, como não conheço os outros livros na integra não sei se já estava publicado.
A culpa de Deus
(Violeta Branca)
Que culpa tenho se Deus
me fez de sal e de mel
e de estrelas me deu
uma coroa e o anel
que brilha na minha mão ?
Que culpa tenho se Ele
me ensinou o caminho
azul de outro e arminho
que leva à inspiração ?
Que culpa tenho se Deus
ao ampliar os meus dias
criou também fantasias
de luas, pássaros, flores,
e me doou poesias
para dizê-las nas horas
das minhas vertigens de amor ? eu no Rio de Janeiro, em 7 de outubro de 2000. Teve quatro filhos. É considerada uma das primeiras poetizas do modernismo e a primeira mulher a ingressar numa Academia de letras no Brasil (1937). Seus poemas estao reunidos dois livros: Ritmos de Inquieta Alegria (1935) e Reencontro: poemas de ontem e de hoje (1982)em tres livros.
Em 1935, aos 19 anos, publicou seu primeiro livro de poesia, Ritmos de Inquieta Alegria, obra com características modernistas, que mereceu uma apreciação entusiasmada do intelectual paulista Rodrigo Octávio e boa acolhida por parte da crítica, pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Esse livro foi relançado em 1998 com a coleção Resgate, pela editora Valer. Dois anos depois, Violeta casa-se e muda-se para o Rio de Janeiro mas continua publicando seus poemas na revista Cabocla em 1936 e na revista A Selva, nos anos 1937-1938, dirigida por Clóvis Barbosa (1904-1989). Em 1939 publicou poemas
no jornal A Tarde que pertencia a Aristophano Antony e em 1962 apareceram algumas publicações de poemas pertencentes a Violeta Branca em O Jornal. Em 1982 publica em parceria com o o . Após 47 anos, em 1982, publicou Reencontros - Poemas de Ontem e de Hoje, seu segundo e último livro.
O reconhecimento do talento precoce de Violeta Branca fez dela a primeira mulher a entrar para uma Academia de Letras no país. Assim, em 14 de abril de 1937, Violeta Branca passa a fazer parte da Academia Amazonense de Letras ocupando a cadeira 28, anteriormente ocupada pelos poetas Raimundo Monteiro, Hugo Bellard e Américo Antony, e que teve como patrono o poeta Annibal Theóphilo (DINIZ, 2002). Durante muitos anos, Violeta representou a AAL na Federação das Academias de Letras do Brasil, no Rio de Janeiro, onde residia.
A obra Ritmos de Inquieta Alegria reúne poemas "de uma alma ainda adolescente" (A Crítica, 11/10/2000), mas cheia de surpresas. Além do universo amazônico e seus mistérios, a sensualidade, um tema ousado para a mulher da época, também está presente na poesia de Violeta Branca, o que causou certo impacto no meio literário amazonense. Fragmentos respectivos de Tankas de Minha Terra e Volúpia ilustram essas temáticas
"Eu quisera ter os braços muito longos,
mais longos que as palmeiras esguias destas zonas,
maiores que as cobras grandes,
maiores, até, que os rios"
Os poemas que a musa amazonense reunira em Ritmos de Inquieta Alegria tiveram os encômios de um dos pontífices das letras pátrias, prestigiosa figura da Academia Brasileira de Letras: Rodrigo Octavio, que neles vira (não obstante sua posição antagônica ao movimento modernista) “versos heroicos, triunfais, nervosos”, para em seguida acentuar, no longo texto com que prefaciara o livro: “a leitura deles me encantou, como encantará a quem os tome em momento de plena disposição de
espírito [...]” (BRANCA, 2012, p. 21).
"O beijo que deste no meu pulso
cobriu de angústia
a forma imaterial dos meus sentidos.
Não percebeste o latejar das veias
ao contato de teus lábios,
e nem advinhaste
que foi o prazer que me fez silenciar..."
BRANCA, Violeta. Reencontro - poemas de ontem e de hoje. 2ª. edição. Manaus, AM: Academia Amazonense de Letras; Edições Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado da Cultura, 2012. 146 p. (Série Violeta Branca, v. 8) 15x21 cm. ISBN 978-85-64218-29-1
BRANCA, Violeta. Ritmos de inquieta alegria. Organização e estudo crítico Tenório Telles. 2ª. edição, revista e aumentada. Manaus, AM: Editora Valer, 1997. 116 p. (Série Coleção Resgate, 1) 14x21 cm. Capa: Álvaro Marques. Foto: Leonide Principe. Apresentação de Marcos-Frederico Krüger. ISBN 85-86512-02-8
Ritmos de inquieta alegria é uma obra que se define pelo lirismo e vivacidade no tratamento dos temas. Compõe-se de poemas em que se destaca a ânsia de vida e liberdade, associadas a um forte desejo de descoberta dos mistérios do mundo. É um livro expressivo de um espírito irresignado, jovem e ousado. Violeta Branca, ao publicá-lo, em 1935, aos dezenove anos, surge para a literatura como uma poetisa promissora. O livro mereceu uma apreciação entusiasmada do saudoso intelectual Rodrigo Octavio e boa acolhida por parte da crítica.
Fonte: em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2010/12/violeta-branca-poetisado-amazonas.html>. Acesso em 10 abr. 2018.
Ritmos de inquieta alegria / Violeta Branca ; organização e estudo crítico Tenório Telles.
Por: Branca, Violeta.
Colaborador(es):Telles, Tenório.
Série: Resgate ; 1.
Editora: Manaus : Valer : ; Edições Governo do Estado, 1997
Ocuparam-se de sua obra, dentre outros, Genesino Braga, Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, tendo merecido , de Almir Diniz, em seu livro Mulheres, a homenagem de um soneto intitulado Canto de Liberdade. Não são poucas, contudo, as homenagens que ela tem recebido no decorrer destes últimos dez anos, destacando-se, para estudo e consulta, Violeta Branca (O poetismo de vanguarda), ensaio e documentário de Carmen Novoa Silva, de quem foi amiga até a data de seu trespasse. Vale a pena reler este livro, no qual, também, comparece uma transcrição da Antologia Poética da Mulher Amazonense, do escritor Danilo Du Silvan, editada em 1984. Embora sem os recursos formais de Cecília Meireles, nem, também, sua profundidade conceitual diante do mundo, Violeta Branca, afinal, segundo Tenório Telles, pertence à primeira fase do modernismo. ¨Seu discurso poético é fluido, despojado de qualquer pretensão acadêmica¨, conclui esse mestre. Feminina, inclusive, não nos parece, em nenhum momento, preocupada com o gênero de sua própria inquietação lírica ou existencial, enfatizando, sobretudo, a monumentalidade interior que se apressa a fazer de seu canto um jornal de surdinas e confidências, algumas vezes pueris, mas sempre como se estivesse entre árvores e pássaros. Jorge Tufic
Editora Valer – Poesia
Ritmos de inquieta alegria
Sob vários aspectos o livro “Ritmos de inquieta alegria”, de Violeta Branca, merece uma reflexão. Comecemos pelo nome da poetisa – Violeta Branca. Olho para um pequeno vaso pleno de violetas brancas, delicadas e frágeis. Vejo-as sorrirem para os que as possam contemplar. Elas são pequenas, cálidas, parecem não suportar o menor toque, nem mesmo do vento, e podem florir, se forem respeitados os cuidados necessários, durante o ano inteiro. Quanto ao perfume, não exalam um perfume forte, normalmente é despercebido.
Não sei por qual ou quais razões, a criança nascida no dia 15 de setembro de 1915 (virginiana) recebeu o sugestivo nome. Além do mais, ele contrasta profundamente com algumas facetas que se apresentam neste livro, possivelmente o primeiro a ser publicado por uma mulher na literatura amazonense – no ano de 1935, quando tinha 19 anos. No ano de 1937, ela ingressou na Academia Amazonense de Letras.
O “Ritmos de inquieta alegria” abre com o poema ‘Minha lenda’, no qual a poetisa afirma que ela, por decisão de Tupã, tornou-se Iara, mas o amor por um homem fê-la mulher. Isso significa que o amor é a força humanizadora que civiliza e que harmoniza os encontros nesta Terra.
O poema ‘Inquietação’ traz versos especialmente belos, por exemplo: ‘Tenho a inquietação de um pássaro entontecido / dançando no azul / das águas que escorrem pelas pedras dos rochedos / na vertigem louca de se atirarem / ao precipício misterioso...’
Violeta Branca inscreve na sua poesia os elementos modernistas, todavia sabemos que não é correto enfeixarmos uma manifestação artística num quadro pré-determinado, melhor é dizermos que ela manifesta um conjunto de inquietações e incorpora uma visão própria do período em que vivia. É essencialmente essa atitude experimentada na sua poesia que lhe dá um lugar na literatura. Ela é, conforme Krüger, no Prefácio desta obra, a principal ou talvez a única modernista no Amazonas. Seja exemplo o ‘Poema agreste’:
Guerreiro audaz, que te enfeitas
de penas coloridas e cobras coleantes,
que andas com o corpo
ágil como flechas
e moreno como o sol,
inteiramente nu,
Os elementos da região amazônica se impõem e elevam o índio, tratado usualmente como ser inferior, para a plenitude da beleza de si e de sua terra. Trata-se de uma voz modernista, mas outros elementos chegam aqui para se solidarizar em Palavra.
Quando Violeta Branca escreveu seu “Ritmos de inquieta alegria”, ela era muito jovem, mas nela já se acumulavam a sonhadora e delicada mulher e a ousadia de uma poetisa que procurava um substrato no mundo da Palavra. No poema ‘Ritmo’, ela diz-nos como faz seus poemas que, ao contrário do que expressa, ultrapassam a aparente ingenuidade.
O ritmo, que luminosamente
a minha arte embala,
é claro e alegre
como uma festa infantil.
É simples, como a fala
ingênua e despretensiosa de uma colegial,
de passo leve e saltitante,
que canta, andando na calçada,
a canção da alegria matinal...
A poetisa, conforme lemos os seus poemas, não poderia se expressar de outra forma, senão em versos livres, pois a liberdade não suporta amarras ou cercaduras. Mas, como já disse, não é a menina que esvoaça pelas calçadas, levada pela poesia, uma poetisa que não tem consciência daquilo que cria. Ela é tanto insegura quanto de uma força que causa pasmo e admiração, pois pensemos na Manaus da década de 1930. À medida que a vamos lendo, daí o bom trabalho do coordenador do livro, Tenório Telles, ela cresce em ousadia. Seu peito arfa para libertar a Palavra que nele se aprisiona.
O poema ‘Eu’ traz alguns dos versos mais fortes do livro:
A exaltação universal
trago-a
quente e vermelha,
em cada gota de meu sangue.
No meu cérebro
passam, numa rapidez inquieta,
de navalhas, ferindo,
os pensamentos,
que nem todos podem pensar.
A ressurreição
da claridade delirante de todos os dias de sol
corre em algemas gritantes
pelos meus gestos expressivos.
Meus nervos,
− cobras vibrantes – enroscam-se
pelas árvores brancas e sonoras
de meu corpo jovem
e deixam restos de sensações fortes
na selva emocional
de minha alma!
Eu tenho uma sensibilidade de punhal!
E nos meus poemas
dança, em alegorias bizarras
e movimentos novos,
toda a instintiva
e incontida
volúpia universal!
O poema ‘Eu’ contrasta com ‘Ritmo’. Nele já não mais fala a jovenzinha livre e saltitante, mas a poetisa altaneira que aspira ao universal e que nos dá um dos belos perfis do poeta e da sua inquietação. No meu entendimento, duas poetisas nesses versos se embatem: aquela que justifica a sua poesia, com bastante insegurança e com severas oscilações. A segunda é segura da sua condição, que não vê para si outro caminho senão o de escrever versos. É ela quem diz que "Eu tenho uma sensibilidade de punhal!".
E ainda, atentemos para esses versos, em ‘Dois tankas de minha terra’:
Nos poemas que ora escrevo
não há, como outrora,
a suavidade de um enlevo...
São ardentes, tropicais:
têm o cheiro de terra molhada
e o gosto das frutas maduras...
É assim que nos deixou poemas ou versos de extrema força e beleza. É por isso que Violeta Branca, de quem temos somente dois livros publicados – “Ritmos de inquieta alegria” (1935) e “Reencontros” (1882), merece ser ouvida como expressão da poesia e pela particularidade como ela compreende a existência.
Para terminar, em ‘Iniciação’ minha breves palavras, a jovem poetisa repete a inquietação de todos os artistas:
Eu não sei quem foi que veio
com as mãos em luz
incendiar de emoção
os cipós flexíveis dos meus nervos.
Eu não sei quem foi que veio
jogar pedras de alegria
na água dormente de minha inquietação...
Eu não sei quem foi...
Talvez fosse melhor não ser poeta, mas Violeta Branca é, e merece ser lida: pelos versos exuberantes e também delicados, pela ousadia com que enfrentou uma sociedade como a amazonense na década de 1930, por mostrar sem medo a juventude que inquietava todo o seu corpo. No mais, seu nome já é um início para se falar de poesia.
Neiza Teixeira
Autora de “Para aquém ou para além de nós.
Os autores e o tema Amazônia são meu foco.
O livro da Violeta Branca, na realidade um livreto de 24 paginas - Concerto a quatro mão - Opus de Violeta Branca e Andrade Melo é fato. Eu possuo uma copia do mesmo. Foi publicado em 1981, pela Gráfica Editora Arte Moderna. Tem um poema neste livreto que gosto bastante, como não conheço os outros livros na integra não sei se já estava publicado.
A culpa de Deus
(Violeta Branca)
Que culpa tenho se Deus
me fez de sal e de mel
e de estrelas me deu
uma coroa e o anel
que brilha na minha mão ?
Que culpa tenho se Ele
me ensinou o caminho
azul de outro e arminho
que leva à inspiração ?
Que culpa tenho se Deus
ao ampliar os meus dias
criou também fantasias
de luas, pássaros, flores,
e me doou poesias
para dizê-las nas horas
das minhas vertigens de amor ?