domingo, 26 de outubro de 2014

Série livros sobre a Amazônia - Theodor Koch-Grünberg


 Theodor Koch-Grünberg (9 de Abril de1872 em Hesse, Alemanha - faleceu de malaria em 8 de outubro de 1924, na maloca Vista Alegre em Boa Vista, Brasil) foi um etnólogo e explorador que construiu uma importante obra sobre os povos indígenas amazônicos, destacando-se os Pemón (Taurepang) da Venezuela e vários povos brasileiros. Nasceu em 09 de abril de 1872 em Grünberg na Alemanha e faleceu em 08 de outubro de 1924 na maloca Vista Alegre, Roraima, no Brasil. 


Veio a primeira vez ao Brasil em 1896 como membro da expedição liderada por Hermann Meyer, que tentou atingir as nascentes do rio Xingu. De 1903 a 1906 viajou pela bacia do Rio Negro, registrando aspectos das culturas indígenas da região, trabalho de que resultou a obra Zwei Jahre Unter Den Indianern. Reisen in Nord West Brasilien, 1903-1905 (Dois anos entre os indígenas: viagens no noroeste do Brasil, 1903-1905). De 1911 a 1913 viajou por todo o Planalto das Guianas e realizou um registro único das sociedades indígenas com que conviveu, se tornando um dos grandes nomes da etnologia brasileira. A expedição partiu de Manaus, subiu o Rio Branco, chegou ao Monte Roraima e à Serra Parima, percorreu os rios Caura, Ventuari e Orinoco até San Fernando de Atabapo, na Venezuela, e de lá desceu pelo canal Cassiquiare até o rio Negro e novamente Manaus. Esse trabalho se tornou o livro Vom Roroima Zum Orinoco (De Roraima ao Orinoco), publicado em 1917 em cinco volumes que estão disponíveis na forma digital  Biblioteca Brasiliana Digital USP.
 Os cinco volumes da edição original trazem:
  • Volume I -Diário da viagem pelo rio Branco até Roraima, pelos rios Uraricuera, Ventuari e Orinoco. Tradução para o português: Do Roraima ao Orinoco, Vol. I, São Paulo, Unesp, 2006.
  • Volume II – Mitos e lendas dos grupos Taulipang, Macuxi e Wapishana de Roraima. Tradução para o português: “Mitos e lendas dos índios Taulipang e Arekuná”. Revista do Museu Paulista, N.S. VII, São Paulo, 1953, pp. 9-202.
  • Volume III – Etnografia e musicologia dos Taulipang.
  • Volume IV – Linguística comparativa de dezenas de etnias encontradas entre os rios Banco e Orinoco.
  • Volume V – Atlas fotográfico dos tipos indígenas encontrados.
Em português há traduções publicadas pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas)
  • KOCH-GRUNBERG, Theodor. Começos da Arte na Selva. Manaus: EDUA/Faculdade Dom Bosco, 2008. 1a. Edição. Projeto gráfico: Verônica Gomes. Tradução de Casimirio Beksta 


  • KOCH-GRUNBERG, Theodor. A Distribuição dos Povos entre Rio Branco, Orinoco, Rio Negro e Yapurá. Manaus: Editora INPA/EDUA, 2006. 151 p. Tradução de Erwin Frank








  • KOCH-GRUNBERG, Theodor. Dois Anos entre os Indígenas: viagens ao noroeste do Brasil (1903/1905). Manaus: Editora Universidade do Amazonas/Faculdade Dom Bosco, 2005. 627 p.  ISBN 85-7401-164-9.  






Em português UNESP (Universidade do Estado de São Paulo)
  • KOCH-GRUNBERG, Theodor. Do Roraima ao Orinoco: observações de uma viagem pelo norte do Brasil e pela Venezuela durantes os anos de 1911 a 1913. Vol. 1. São Paulo: UNESP / Instituto Hans Staden 2006. 1ed.  ISBN 9788571396401. Tradução: Cristina Alberts-Franc



Este é o primeiro de três volumes da obra de Koch-Grunberg, a serem publicados pela Editora UNESP. Trata-se dos relatos da viagem empreendida por Theodor Koch-Grunberg pela região Norte do Brasil e Venezuela, no período de 1911 a 1913. O autor faz, sobretudo, um levantamento etnográfico e lingüístico dos povos indígenas da região; transcreve também suas lendas e mitos de origem, que mais tarde inspiraram Mário de Andrade na redação de Macunaíma. O volume traz reproduções de fotografias originais do autor, reveladas e ampliadas em plena viagem. Os volumes seguintes contarão, também, com desenhos originais, que reproduzem em detalhes objetos e a arte dos povos encontrados pelo pesquisador. (Co-edição: Instituto Martius Staden)



 Em português há uma tradução do livro Südamerikanische Felszeichungen pelo MPEG - ISA (Museu Paraense Emilio Goeldi)
  • KOCH-GRUNBERG, Theodor. Petroglifos Sul-Americanos. MPEG: Belém, 2010. 1 ed. 142 p. ISBN 978856137742. Tradução João Batista Poça da Silva



http://www.encontroamazonia.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/06/14526313454c5ac336efe70.jpg









A mais importante fonte de documentação sobre as gravuras rupestres do alto Rio Negro. Trata-se da versão em português da obra publicada em Berlim, em 1907, com o título Südamerikanische Felszeichungen. Tradução João Batista Poça da Silva, organização e apresentação de Edithe Pereira (MPEG), inclui um texto de Aloisio Cabalzar (ISA) sobre a visão contemporânea dos povos indígenas do Rio Negro.


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Publicações originais de KOCH-GRUNBERG


  • Anfänge der Kunst im Urwald. Ernst Wasmuth, Berlin 1905.


  • Indianertypen aus dem Amazonasgebiet. Nach eigenen Aufnahmen während seiner Reise in Brasilien. Ernst Wasmuth, Berlin 1906–1911 (sieben Lieferungen).









  • Südamerikanische Felszeichnungen. Ernst Wasmuth, Berlin 1907.







  • Zwei Jahre unter den Indianern: Reisen in Nordwest-Brasilien, 1903–1905. 2 Bände. Ernst Wasmuth, Berlin 1909/1910.









Zwei Jahre unter den Indianern  -  Reisen in Nordwest- Brasilien 1903/1905. Erster Band




  • Vom Roroima zum Orinoco. Ergebnisse einer Reise in Nordbrasilien und Venezuela in den Jahren 1911–1913. 5 Bände. Strecker und Schröder, Stuttgart 1916–1928















  • Indianermärchen aus Südamerika. Eugen Diederichs, Jena 1920.





 
 Fonte: Wikipedia

Para saber mais:

  • GALUCIO, Ana Vilacy. “Theodor Koch-Grünberg: documentando culturas indígenas no início do século XX“. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. [online]. 2010, vol.4, n.3, pp. 553-556.

  • Kraus, Michael 2010. Amistades Internacionales como contribución a la paz. La correspondencia entre Paul Rivet y Theodor Koch - Grünberg en el contexto de la Primera Guerra Mundial. En: Antipoda. Revista de Antropología y Arqueología (Bogotá) (Julio - Diciembre 2010: Antropología. Historias, Prácticas e identidades), p. 25-41

  • Frank, Erwin 2010. Objetos, imagens e sons: a etnografia de Theodor Koch-Grünberg (1872-1924). En: Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas (Belém), V.5 N.1 (Janeiro-abril de 2010): 153-171

  • Hempel, Paul
2009 Theodor Koch-Grünberg and Visual Anthropology in Early Twentieth-Century German Antropology. In: Christopher Morton and Elizabeth Edwards (eds.), Photography, Anthropology and History: Expanding the Frame; pp. 193-219. Farnham; Burlington: Ashgate. 

  • Kraus, Michael 2009. Leipzig und Lateinamerika. Forschungsreisende zwischen Wildnis, Wissenschaft und Weltklugheit. In: Deimel, Claus, Lentz, Sebastian und Bernhard Streck (Hrsg.): Auf der Suche nach Vielfalt. Ethnographie und Geographie in Leipzig. Leipzig: Institut für Länderkunde. 2009, S. 47-63.

  • Kraus, Michael 2009. Amistades asimétricas. Curt Unckel Nimuendajú (1883-1945) y los contactos con los indígenas brasileños. In: Humboldt (Goethe-Institut) 151 (Amistad. Fisonomías de una relación compleja): 60-62. Deutsche, spanische und portugiesische Fassung auch unter: http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/ami/de4899558.htm

  • Valentin, Andreas 2007: O índio na fotografia de George Huebner. In: Cadernos de Antropologia e Imagem, N.24: 65-78.

  • Hempel, Paul 2007. Facetten der Fremdheit: Kultur und Körper im Spiegel der Typenphotographie. In: Hans-Peter Bayerdörfer et al. (Hg.) Bilder des Fremden: Mediale Inszenierung von Alterität im 19. Jahrhundert (Kulturgeschichtliche Perspektiven, 5). Münster: Lit: 177-205.

  • Christino, Beatriz 2007. Os vaivéns da rede (internacional) de Capistrano de Abreu. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (S. Paulo), N. 45, S. 37-62.

  • Kraus, Michael, 2007. Philological Embedments - Ethnological Research in South America in the Ambience of Adolf Bastian. In: Fischer, Manuela, Peter Bolz und Susan Kamel (Eds.): Adolf Bastian and his Universal Archive of Humanity. The Origins of German Anthropology, Hildesheim u.a.: Olms, S. 140–152.

  • Koch, Lars-Christian/ Susanne Ziegler (Hg.) 2006. Theodor Koch-Grünberg: Walzenaufnahmen aus Brasilien 1911-1913/ Gravações em  cilindros do Brasil (CD) (Historische Klangdokumente/Documentos sonoros históricos, 3). Berlin: Staatliche Museen zu Berlin.

  • Geisenhainer, Katja 2005. Marianne Schmidl (1890-1942). Das unvollendete Leben und Werk einer Ethnologin. Leipzig: Leipziger Universitätsverlag GmbH. 439 S.

  •  Hempel, Paul 2005 Das Moment der Bewegung. Zur räumlichen Praxis der frühen ethnographischen Fotografie. In: Claudia Jeschke and Helmut Zedelmaier (eds.), Andere Körper - Fremde Bewegungen. Theatrale und öffentliche Inszenierungen im 19. Jahrhundert; pp. 123-147. Münster: Lit Verlag.

  • Kraus, Michael 2004 »... y cuándo finalmente pueda proseguir, eso sólo lo saben los dioses ...« ? Theodor Koch-Grünberg y la exploración del Alto Rio Negro. In: Boletín de Antropología (Medellín) Vol. 18 No. 35: 192-210 (spanische Übersetzung von Kraus 2002). (s. hier).

  • Kraus, Michael 2004. Bildungsbürger im Urwald - Die deutsche ethnologische Amazonienforschung (1884-1929) (Reihe Curupira, 19). Marburg: Förderverein "Völkerkunde in Marburg". 539 S.

  • Kraus, Michael (Hg.) 2004. Theodor Koch-Grünberg: Die Xingu-Expedition (1898-1900). Ein Forschungstagebuch. Köln et al.: Böhlau. 503 S.

  • Kraus, Michael 2004. Am Anfang war das Scheitern: Theodor Koch-Grünberg und die 'zweite Meyer'sche Schingú-Expedition'. In: Ders. (Hg.) Theodor Koch-Grünberg: Die Xingu-Expedition (1898-1900): Ein Forschungstagebuch. Köln et al.:Böhlau: 451-496.

  • Münzel, Mark (2004): Die ethnologische Erforschung des Alto Xingu. In: Michael Kraus (Hg.) Theodor Koch-Grünberg: Die Xingu-Expedition (1898-1900): Ein Forschungstagebuch. Köln et al.:Böhlau: 435-452.

  • Kraus, Michael 2004. Una composición de diferentes factores. La imagen del Indígena entre teorías científicas, experiencias personales y contextos sociales en la obra de Th. Koch-Grünberg. In: Cipolletti, María Susana (Hrsg.) Los mundos de abajo y los mundos de arriba: Individuo y sociedad en las tierras bajas y en los Andes. Tomo de homenaje a Gerhard Baer. Quito: Abya-Yala: 401-423.

  • Hermannstädter, Anita 2004. Der Sertão als schwieriger sozialer Geltungsraum. In: Michael Kraus (Hg.) Theodor Koch-Grünberg: Die Xingu-Expedition (1898-1900): Ein Forschungstagebuch. Köln et al.: Böhlau. S. 403-433.

  • Kraus, Michael 2002. Pionierleistungen in Amazonien: Der Ethnologe Theodor Koch-Grünberg. In: Tópicos (Deutsch-Brasilianische Hefte, Bonn), 3/2002 (41. Jg.): 28-35.

  • Kraus, Michael 2002. '... und wann ich endlich weiterkomme, das wissen die Götter...' - Theodor Koch-Grünberg und die Erforschung des oberen Rio Negro. In: Doris Kurella/Dietmar Neitzke (Hg.): Amazonas-Indianer. LebensRäume. LebensRituale. LebensRechte. Berlin: Reimer: 113-128.

  • Kraus, Michael 2002. Von der Theorie zum Indianer: Forschungserfahrungen bei Theodor Koch-Grünberg. In: Staatl. Museen zu Berlin pK, Ethnologisches Museum (Hg.) Deutsche am Amazonas - Forscher oder Abenteurer? Expeditionen in Brasilien 1800-1914. Berlin: LIT: 86-105.

  • Geisenhainer, Katja 2002. Marianne Schmidl. In: Zeitschrift für Ethnologie (Berlin) 127, 2: 269-300.

  • Hermannstädter, Anita 2002. Eine vergessene Expedition: Wilhelm Kissenberth am Rio Araguaya 1908-1910. In: Staatliche Museen zu Berlin pK, Ethnologisches Museum (Hg.) Deutsche am Amazonas - Forscher oder Abenteurer? Expeditionen in Brasilien 1800-1914. Berlin: LIT: 86-105.

  • Kraus, Michael 2001. Aspekte der ethnologischen Amazonienforschung um die Wende vom 19. zum 20. Jahrhundert. In: Gregor Wolff (Hg.) Die Berliner und Brandenburger Lateinamerikaforschung in Geschichte und Gegenwart: Personen und Institutionen. Berlin: Wissenschaftlicher Verlag: 293-311.

  • Kraus, Michael 2001. Aus der Frühzeit des Homo Ethnologicus: Der Nachlass des Südamerikaforschers Theodor Koch-Grünberg. In: Stéphane Voell (Hg.) '... ohne Museum geht es nicht':  Die Völkerkundliche Sammlung der Philipps-Universität Marburg (Curupira Workshop, 7). Marburg: Förderverein "Völkerkunde in Marburg": 233-241. (s. online Version hier)

  • Kraus, Michael 2000: Über das Museum an die Universität. Etablierungsprobleme eines jungen Faches, aufgezeigt anhand der Schriftwechsel von Theodor Koch-Grünberg. In: Ders./Mark Münzel (Hg.) Zur Beziehung zwischen Universität und Museum in der Ethnologie (Curupira Workshop, 5). Marburg: Förderverein "Völkerkunde in Marburg": 17-36.

  • Kraus, Michael 2000. Zwischen fröhlicher Teilnahme und melancholischer Beobachtung. Erwartung und Enttäuschung in wissenschaftlichen Reiseberichten aus dem östlichen Südamerika". In: Mark Münzel et al. (Hg.) Zwischen Poesie und Wissenschaft: Essays in und neben der Ethnologie (Curupira, 9). Marburg: Förderverein "Völkerkunde in Marburg": 63-87.



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Entrevista com Renan Pinto (Editor da EDUA - UFAM)


Começo da Arte na Selva, de Theodor Koch-Grünberg.


     17 de outubro de 2009

     Da mesma forma como procedeu em suas pesquisas por vários rios do Amazonas, sem alarde e longe da “civilização”, assim passou a data dos 85 anos da morte do alemão Theodor Koch-Grünberg, em 8 de outubro de 2009.

     O desprezo por Grünberg e pelo trabalho que realizou no Amazonas em três períodos distintos, nas primeiras duas décadas do século passado (1903 a 1905; 1911 a 1913 e 1924), além dos livros que publicou com suas descobertas, parece ser crônico, pois durante décadas o rico material etnográfico (estudo da cultura material e espiritual dos povos nativos) e antropológico (classificação dos caracteres físicos desses grupos humanos) que adquiriu entre vários povos indígenas da região permaneceu esquecido e ignorado no Brasil e não menos no Amazonas, de onde deveriam surgir os maiores interessados em conhecer e divulgar as pesquisas do alemão.

     Theodor Koch-Grünberg nasceu na cidade de Grünberg, na Alemanha, em 9 de abril de 1872. Desde cedo se interessou por aventuras em terras distantes e bravias e assuntos relacionados com índios, principiando por se aprofundar em filologia (estudo dos documentos escritos e da forma de língua que eles nos dão a conhecer).

     De acordo com o professor e pesquisador cultural Antonio Alexandre Bispo, “em 1903, Koch-Grünberg realizou os preparativos para uma viagem ao Amazonas patrocinada pelo Museu de Etnologia de Berlim. Essa viagem trouxe-o ao rio Negro, alcançando o território do Caiary-Uaupés; passando pelo Apaporis e Japurá, retornando em maio de 1905 a Manaus”.

     Durante essa expedição, registrou 40 dialetos, procurando penetrar através da língua e da arte na vida psíquica dos índios, tomando parte também em festas com danças e cerimônias fúnebres.

     De volta ao Museu de Berlim, trabalhou com o material coletado, publicando estudos tais como Começo da Arte na Selva (1905), Desenhos Sul-Americanos em Rochas (1907); Dois Anos entre os Indígenas (1909), além de vários artigos e trabalhos linguísticos.

     O retorno

     Em 1911, Grünberg retornou à América do Sul, dirigindo-se ao Norte do Brasil e à Venezuela. De Manaus subiu o rio Negro e o rio Branco. “À estadia agradável entre os taulipang, na região de Roraima, seguiu-se uma viagem difícil pelo Uraricoera, com permanência entre os yekuaná e uma tentativa frustrada de chegar às cabeceiras do Orinoco para, finalmente, atingir esse rio pelo Ventuari e retornar pelo Cassiquiare”, diz Antonio Bispo.

     Nessa segunda expedição, Grünberg se utilizou de um fonógrafo para gravar cantos indígenas. Para acostumá-los com um aparelho que podia reproduzir a voz humana e a música, trouxe rolos com gravações para que eles as ouvissem. Antonio Bispo acrescenta que “nessas apresentações, constatou que os índios gostavam da audição de música européia. Assim, grupos de wapichana, taulipang e macuxi tomaram contato com peças populares e de operetas de compositores alemães como Franz Lehar e Paul Lincke. Repetidas várias vezes, a pedido dos indígenas, logo as crianças já cantavam as melodias sem erro e, lógico, pronunciando mal o texto alemão”.

     Entusiasmado, Koch-Grünberg escreveu sobre o fato: "eu executei todos os cantos para um público numeroso e grato. Pessoas nuas e semi-nuas, em grande quantidade, se agruparam em pictórico semi-círculo à parede da grande ante-sala da minha cabana, e ouviram com atenção o canto do seu chefe, reproduzido pelo gramofone. Pitá ri satisfeito quando ele escuta a si próprio. Algumas mulheres, assustadas, tapam com as mãos a face ou a boca, outras postam as mãos como para rezar, e são tão piedosas como há pouco no serviço divino do padre”. O médico-feiticeiro, chamado pelo chefe do grupo, não quis, entretanto, cantar à ‘máquina’, perguntando desconfiado, por que Grünberg desejaria levar consigo a sua voz.

     A última expedição

     Em sua terceira e última visita à região, em 15 de setembro 1924, Koch-Grünberg lamentou a dizimação das populações indígenas pelas epidemias e pela influência de garimpeiros.

     Desta viagem, o pesquisador elaborou vocabulários de 23 tribos, textos de cantos medicinais e de magia, lendas e mitos na língua original e tradução, observações escritas e visuais sobre os costumes e usos, além de fonogramas de cantos e filmes de danças. Publicou De Roraima ao Orinoco, em cinco volumes, sendo-lhe concedido o título de professor pela Universidade Freiburg.

     Ainda em 1915, após ser nomeado diretor científico do Museu de Etnologia em Stuttgart, tornou-se responsável pelo departamento sul-americano, porém, em 1924, foi despedido pela associação que mantinha o museu. Antonio Bispo diz que, exatamente nesse ano, Grünberg foi “convidado pelo pesquisador americano Hamilton Rice a acompanhá-lo em uma nova viagem às cabeceiras do Orinoco, essa expedição deveria ser dividida em dois grupos, partindo um do Orinoco e outro do Uraricoera em direção à Serra Parima. Grünberg deveria dirigir a parte que ia pelo Uraricoera, enquanto a outra parte seria liderada por Rice, sua mulher e uma comissão médica da Universidade de Havard”.

     O alemão partiu de Hamburgo no dia 6 de junho de 1924 e no dia 20 de agosto já subia o rio Negro, entrando pelo rio Branco até Vista Alegre onde pegou malária, morrendo no dia 8 de outubro de 1924, aos 52 anos de idade.

     Um velho baú

     Em Manaus, o responsável pela edição dos três livros de Koch-Grünberg, únicas existentes no Brasil, foi o sociólogo Renan Freitas Pinto, quando diretor da EDUA (Editora da Universidade Federal do Amazonas). “Desde a minha época de ginásio lera sobre Grünberg, nos livros de Mário de Andrade que, aliás, escreveu Macunaíma baseado em relatos do pesquisador sobre lendas e mitos de povos habitantes da atual região de Roraima. Não entendia porque outros antropólogos menos importantes que Grünberg eram publicados e ele não. Quando fui dirigir a EDUA, não medi esforços para buscar suas obras, mandar traduzi-las para o português e editá-las”.

     Foi assim que foram surgindo, ineditamente em português, as obras do alemão: Dois Anos entre os Indígenas (2005); A Distribuição dos Povos entre rio Branco, Orinoco, rio Negro e Yapurá (2006), tradução de Erwin Frank, e Começos da Arte na Selva (2009), tradução de Casimiro Beksta.

     Para Renan, “a morte prematura de Koch-Grünberg certamente o impediu de realizar importantes planos de pesquisa, cujas contribuições seriam esclarecedoras para o conhecimento dos povos indígenas e para a publicação de novas obras, como foram aquelas que o consagraram como um dos fundadores da antropologia brasileira, e de modo particular, dos povos indígenas da Amazônia”. Apesar de ter morrido há 85 anos, a visão humanista de Grünberg sobre a destruição dos povos da Amazônia retrata a mesma dos dias atuais. “Um material humano capaz de desenvolver-se e que pode ser aniquilado pela brutalidade dessa moderna cultura da barbárie”.

     Os únicos vestígios da passagem de Theodor Koch-Grünberg por Manaus podem ser vistos no museu do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), onde um baú com alguns poucos pertences (chapéu, roupas e diário) permanecem guardados desde quando seus restos mortais foram trazidos de Vista Alegre, alguns anos após sua morte, para serem enterrados na cidade, no cemitério São João Batista.

     Fonte: Site da UFAM

sábado, 25 de outubro de 2014

Série livros sobre a Amazônia - História do rio Amazonas - Henrique Américo Santa Rosa




Henrique Américo Santa Rosa (1860-1933), nascido em Belém do Pará,  engenheiro civil,  formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, foi também geografo e historiador. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro e fundador do Instituto Histórico, Geográfico e Etnológico do Pará e um dos maiores historiadores do Pará e da Amazônia no inicio do seculo XIX. Filhos do politico Américo Marco Santa Rosa. Foi o diretor da Secretaria de Obras Públicas, Terras e Viação do Pará por 22 anos.





ROSA, H. A. S. Historia do rio Amazonas.  Belém: Officinas Graphicas do Instituto Lauro Sodré, 1926. 196 p.







Henrique A Santa Rosa. História do Rio Amazonas. 1926, Ophicinas Gráphicas Guajarinas, Belém. 118 p








O livro apresentado pelo escritor  Dr. Henrique Américo Santa Rosa, foi apresentado como tese ao IHGB para sua admissão -  História do Rio Amazonas –  relata o assunto com ampla informação, estudando em primeiro lugar a Geografia física da região banhada “pelo rio por excelência, glória do nosso Planeta” –   como o qualificou o eminente Elisée Réclus –  para passar em seguida à história do descobrimento por Vicente Yañez Pinzon nos dias iniciais do século XVI, às empresas trágicas ou malogradas de Pizarro e Orellana, de Ursua e de Aguirre no correr do mesmo século, às aventuras dos que buscavam o El Dorado e dos que  procuravam colonizar as terras, até a expedição famosa de Pedro Teixeira na primeira metade do século seguinte, às missões de catequese, às viagens de caráter comercial –  e às explorações cientificas, que vêm de Humboldt, Spix e Martius, aos naturalistas e viajantes do Museu Goeldi. Quanto se  pode dizer, em síntese, da exposição do Dr. Santa Rosa, é que ela desenvolve com método e erudição a história do rio Amazonas, tão interessante quanto até agora fragmentária. Sua aprovação se impõe e aplausos são devidos ao ilustrado autor. S. S. em 11 de setembro de 1922 - Gastão Ruch, presidente, Rodolfo Garcia, relator, I. Feijó Bittencourt, J. Mattoso Maia Forte.