domingo, 29 de julho de 2012

GRACILIANO RAMOS - ESCRITOR ALAGOANO


Graciliano Ramos de Oliveira (Quebrangulo, 27 de outubro de 1892Rio de Janeiro, 20 de março de 1953) foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX.


Biografia

Graciliano Ramos viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro. Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Voltou para o Nordeste em setembro de 1915, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano casou-se com Maria Augusta de Barros, que morreu em 1920, deixando-lhe quatro filhos.
Foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios em 1927, tomando posse no ano seguinte. Ficou no cargo por dois anos, renunciando a 10 de abril de 1930.[2] Segundo uma das auto-descrições, "(...) Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas." Os relatórios da prefeitura que escreveu nesse período chamaram a atenção de Augusto Frederico Schmidt, editor carioca que o animou a publicar Caetés (1933).
Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial, professor e diretor da Instrução Pública do estado. Em 1934 havia publicado São Bernardo, e quando se preparava para publicar o próximo livro, foi preso em decorrência do pânico insuflado por Getúlio Vargas após a Intentona Comunista de 1935. Com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar Angústia (1936), considerada por muitos críticos como sua melhor obra.
Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Em 1945 ingressou no antigo Partido Comunista do Brasil - PCB  nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus com a segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, retratadas no livro Viagem (1954).  Ainda em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico.
Adoeceu gravemente em 1952. No começo de 1953 foi internado, mas acabou falecendo em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do pulmão.

FONTE: Adpatado de WIKIPEDIA - http://pt.wikipedia.org/wiki/Graciliano_Ramos

BIOGRAFIA



Caetés (romance - 1933), Editora Schmidt, Rio de Janeiro.
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Graciliano Ramos. Cahetes. Schmidt. Rio de Janeiro. 1933.x 231 p.











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Graciliano Ramos. Cahetes. 2 ed. José Olympio. Rio de Janeiro. 1947. 231 p.



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 • São Bernardo (romance - 1934), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.






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São Bernardo
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RESENHA: Como a paisagem árida e impiedosa do sertão nordestino, esta narrativa se vale apenas do essencial. Para o autor, o mundo não libera encantos, as paisagens são apenas pontos de referência entre os quais os personagens se movem. Essa linguagem crua e despojada está fortemente presente nessa obra que tem a força de uma tragédia rural brasileira e conta a história de Paulo Honório, um homem simples que, movido por uma ambição sem limites, acaba por se transformar num grande fazendeiro do sertão alagoano e casa-se com Madalena para conseguir um herdeiro. Incapaz de entender a ótica humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. Com esse personagem, Graciliano traça o perfil da vida e do caráter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, onde não há espaço nem para a amizade, nem para o amor.

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• Angústia (romance - 1936), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.




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• Vidas Secas (romance - 1938), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.






Graciliano Ramos. Vidas Sêcas. 1 ed. José Olympio. Rio de Janeiro 1 ed. 1938. 197 p.






• A Terra dos meninos pelados (romance - 1939), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.




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• Infância (memórias - 1945), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.



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• Insônia (contos - 1947), Livaria Martins Editora, Rio de Janeiro.


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• Memórias do cárcere (memórias - 1953 - póstuma), Livraria  Martins Editora, Rio de Janeiro.





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• Viagem (relato de viagem - 1954 - póstuma), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.




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• Alexandre e outros heróis (contos - 1962 - póstuma), Livraria  Martins Editora, Rio de Janeiro.



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• Linhas tortas (crônicas - 1962 - póstuma), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.



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• Viventes das Alagoas (crônicas - 1962 - póstuma), Livraria Martins Editora, Rio de Janeiro.



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O HOMEM E SUA OBRA"

por Jorge Amado


Um dos fenômenos mais curiosos do avanço cultural do Brasil, revelador de nosso rápido amadurecimento, é o fato de Graciliano Ramos, escritor considerado difícil por volta de 1940, situar-se hoje entre os romancistas de maior popularidade do País. Suas edições sucedem-se, alguns dos seus livros colocam-se entre os best sellers permanentes nas livrarias do norte ao sul, das grandes e das pequenas cidades. Não há dúvida: apesar das marchas e contramarchas, dos recuos e das tentativas do entreguismo de fazer o Brasil retornar a uma economia agropastoril de economia exportadora de matérias-primas e importadora de luxo e miséria, apesar do golpe de estado reacionário de 1964, apesar de tudo isso o Brasil cresce, faz-se poderoso, econômica e culturalmente.
Graciliano Ramos, romancista de Alagoas, duro sertanejo de indômita vontade, têmpera de aço, foi um dos escritores que mais concorreram para esse avanço brasileiro. Foi um dos construtores de sua época, criador de uma grande literatura e da consciência nacional.
Pelos meados de 1933, tomei no Rio um pequeno navio da Companhia Nacional de Navegação Costeira, um daqueles "Itas" que viraram folclore e música popular, e rumei para Maceió, onde habitava Graciliano Ramos. Era nos tempos heróicos do "movimento de 30" - movimento literário que sucedia ao Modernismo somando um interesse real pelo homem brasileiro e seus problemas às conquistas formais da Semana de Arte Moderna. O Modernismo processara-se na cúpula de salões literários, em São Paulo e no Rio, e de revistas de pequena circulação. Só muitos anos depois o público viria tomar conhecimento dos grandes nomes de 1922 e um Mário de Andrade, por exemplo, só alcançaria um vasto círculo de leitores nos dias de agora, de um Brasil em luta contra o subdesenvolvimento, industrializando-se, rasgando estradas para a Amazônia, construindo Brasília.
O "movimento de 30" processou-se, por assim dizer, no meio da rua, entre o povo. Essa a sua diferença essencial para o Modernismo.
Surgiram nomes e livros e logo se tornavam populares, começou a existir uma coisa antes desconhecida no Brasil: o público ledor. Nomes e livros: José Américo de Almeida e Bagaceira ainda em 1928, o primeiro, sem o qual não existiríamos; Rachel de Queirós e O Quinze; José Lins do Rego e Menino de Engenho; Amando Fontes e Os Corumbás, Érico Veríssimo e Clarissa; José Geraldo Vieira e A Mulher que Fugia de Sodoma; Lúcio Cardoso e Maleita; Marques Rebelo e Oscarina.
Apesar de alguns desses então jovens escritores estreantes eram do sul do país, falava-se sobretudo em romance do Nordeste, talvez porque mais marcada nos nordestinos certas preocupações relativas aos problemas sociais das cidades e do campo, do homem brasileiro.
Naquele ano de 1933 começou-se a citar o nome de Graciliano Ramos, a propósito de uns relatórios que, como prefeito de uma pequena cidade do interior, Palmeira dos Índios, enviara ao governo do Estado. Os originais de um romance seu haviam chegado à Editora Schmidt, espécie de Meca do "movimento de 30", eu lera esses originais e encheram-me do mais completo entusiasmo.
Naquela época Maceió era importante centro cultural: lá estavam os paraibanos José Lins do Rego e Santa Rosa, a cearense Rachel de Queirós, e entre os alagoanos, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aurélio Buarque de Holanda, Carlos Paurílio, Alberto Passo Guimarães, Aluísio Branco. Aliás, foram Alberto Passos e Santa Rosa, recém chegados ao Rio, os incentivadores de minha viagem Tendo feito uma parada em Aracaju para ver uma namorada - conhecimento de viagem anterior, noutro "Ita" - toquei-me para a capital de Alagoas. Viagem Feliz: fiz amigos que, alguns o são, e dos melhores, até hoje, e outros que foram durante toda a vida, aqueles que a morte já levou. De 1933 a 1953, quando ele morreu, fomos, Graciliano e eu, amigos de todos os dias e em todas as situações. Situações por vezes bem difíceis, duras ou complicadas, pois esses vinte anos incluíram, em seu bojo, uma grande guerra e, no Brasil, pequenas guerras locais.
A publicação de Caetés procedeu de apenas poucos meses a de São Bernardo e logo toda a crítica e o público compreenderam a importância do novo escritor, sentiram o agradecimento de um verdadeiro mestre de nossa ficção, nome a juntar-se a uns poucos, como Machado de Assis e Aluísio de Azevedo. Pode-se dizer que Graciliano Ramos foi considerado um "clássico" do romance e do conto brasileiros quando ainda em vida. Escreveu mais dois romances, além desses primeiros: Angústia e Vidas Secas. Com este último, retomando o tema, que parecia esgotado, das secas, do árido sertão dos retirantes, deu à nossa literatura uma de suas obras-primas, livro de densidade incomum, de raro equilíbrio, de comovedora beleza. Recordo-me do "velho Graça" (Graciliano estreou aos quarenta e poucos anos de idade e nós, seus companheiros de literatura, alguns bem mais moços que ele, sempre o chamamos, carinhosamente, de "velho") escrevendo esse romance, entre sucessivos cigarros e grandes xícaras de café, Vidas Secas ganhou o mundo, creio ser o romance de Graciliano mais traduzido e publicado no estrangeiro.
Graciliano foi mestre do romance e mestre do conto, como Machado de Assis, e Lima Barreto. Caso bem raro em nossa literatura, onde poucas vezes um escritor consegue se firmar nos dois gêneros. Quase sempre contistas excelentes são romancistas medíocres ou vice-versa. No caso especial de Vidas Secas, o romance - e romance de primeira qualidade - é formado por um conjunto de narrativas que, tomadas isoladamente, são contos da melhor qualidade.
Graciliano foi, entre os escritores do "movimento de 30", o que mais se aproximou da perfeição. Ante a justeza, a correção brasileira da língua portuguesa por ele escrita, nós, os outros ficcionistas do Nordeste, somos uns bárbaros. Esse sertanejo de Palmeira dos Índios nasceu clássico, um clássico brasileiro.
Sertanejo feito de uma só peça, um caráter, uma consciência. Não foi só um grande escritor, foi um grande homem. Em cargos de governo - diretor da Imprensa Oficial ou Secretário de Educação em seu Estado - nas pensões baratas da Rua do Catete, no Rio, nas celas das prisões, na trágica promiscuidade da Colônia Correcional, na banca de jornal corrigindo originais de jornalistas famosos, no tempo final da enfermidade terrível, guardou sempre uma dignidade exemplar do homem e o cidadão. Pessimista em relação aos políticos e à vida literária, foi extraordinária sua confiança no povo, sua fidelidade à literatura. Homem de quebrar, jamais de dobrar-se, sem vaidade mas de profundo orgulho, reservado e mesmo tímido em certos momentos, soube, no entanto, não se isolar da vida e dos problemas do País, não fugir às obrigações impostas por seu tempo dramático. O livro que nos dá sua justa medida de homem, de um homem muito além do comum, é Memórias do Cárcere, no qual a alta qualidade literária imortaliza um depoimento terrível sobre uma época espantosa de nossa vida nacional.
Esse homem seco e difícil, seco de carnes, econômico em sua literatura da qual eliminou qualquer gordura, cuja amizade era moeda de câmbio alto, reservada para alguns, que começou a escrever já maduro e que morreu cedo, plena força criadora, esse Graciliano Ramos do interior de Alagoas, com algo de senhor feudal e de cangaceiro reivindicador, foi um dos homens mais doces e ternos que conheci, dos mais fiéis aos seus amigos - a lealdade era sua virtude fundamental.
Recordo o velório de seu corpo na Câmara Municipal do Rio de Janeiro; escritores choravam pelos cantos, choravam homens rudes, operários, gente humilde do povo. Ele não era um líder nem mesmo um escritor de fácil popularidade. Mas sua grandeza era compreendida por todos, todos sentiam que havíamos perdido um dos nossos maiores artistas, um homem excepcional.
Hoje sua obra reunida em coleção primorosa pela Livraria Martins Editora, ilustrada pelos grandes artistas, alcança a popularidade só reservada aos escritores fundamentais, aqueles que são a própria carne e o próprio sangue de seu povo, os verdadeiros clássicos porque sempre modernos, imortais. Seus romances são traduzidos nas línguas mais diversas e revelam às gentes distantes a face de nossa gente brasileira. Mestre Graça cresceu e sempre crescerá com o Brasil, com a pátria que ele ajudou a construir.
Jorge Amado

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Milton Hatoum lembra pessimismo, política e autocrítica de Graciliano

Cauê Muraro Do G1,

Milton Hatoum faz conferência de abertura da Flip 2013; ele falou sobre Graciliano Ramos (Foto: Flavio Moraes/G1)Milton Hatoum faz conferência de abertura da Flip 2013; ele falou sobre Graciliano Ramos (Foto: Flavio Moraes/G1)

Na conferência de abertura da 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na noite desta quarta-feira (3), o escritor amazonense Milton Hatoum lembrou-se do Graciliano Ramos (1892-1953) obsessivamente "autocrítico", pessimista ao ponto de questionar um cumprimento como "boa noite" e político responsável com relação a "gastos públicos". Também comparou-o a Machado de Assis, repetindo o termo "pessimismo" e adicionando agora o "niilismo" como qualidade definidora.
Autor ainda de livros como "Angústia", "São Bernardo" e "Memórias do cárcere", Graciliano é o grande homenageado da edição 2013 do evento, que vai até domingo (7) na cidade do litoral sul do Rio de Janeiro. Por isso, foi o tema da palestra de Hatoum, conhecido por obras como “Relato de um certo oriente”, “Dois irmãos” e “Cinzas do norte”.

"Boa noite  por quê?'

Ao entrar no palco, Milton Hatoum disse "boa noite" aos presentes na Tenda dos Autores e fez uma brincadeira, dizendo que Graciliano, ao ouvir tal cumprimento, costumava responder: "Você acha mesmo?". E então definiu o homenageado como "pessimista radical". Para reforçar a avaliação, citou dois outros autores: "Graciliano Ramos tinha fama de ser áspero e intratável como o cacto do poema de Manuel bandeira. Mas um cacto já se humanizando, como disse Murilo Mendes num poema. Era afetuoso entre amigos e parentes, e irônico quando se referia a si mesmo".

Logo em seguida, ainda naquele início do discurso, Hatoum fez referência à atividade política de Graciliano Ramos, que entre 1928 e 1930 foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL). Não por acaso, a primeira "obra" lida ao público pelo palestrante durante a conferência de abertura foram dois relatórios de prestação do contas feitos pelo então prefeito. "São textos muito bem escritos. (...) Há, de fato, cifras e crifrões, mas já aparecem os assuntos de 'Vidas secas', 'São Bernardo' e 'Infância'. Além disso, a crítica, o tom desabusado e irônico, as frases breves já apontam para um estilo", afirmou Hatoum. "Desde 'Caetés', livro de estreia, o narrador problematiza a linguagem, e busca com esforço a lucidez e o rigor, que é avesso à espontaneidade." Foi recorrente, na conferência, a comparação entre Graciliano e outros autores, notadamente Machado de Assis. "Ele é machadiano pelo tom desabusado, pela linguagem concisa, pela exploração en profundidade de questões sociais e políticas e pela loucura e desajustes de certos personagens", enumerou. "Graciliano nunca submeteu sua obra ficcional à propaganda idelogócia. Mas, à semelhança de Machado, não escamoteou a verdade das relações humanas." Mais tarde, foram citados Guimarães Rosa, Eça de Queiroz, Balzac e Dostoievski. Hatoum também abordou mais detidamente os livros "São Bernardo, "Vidas secas", "Infância" e "Memórias do cárcere". "A obra de Graciliano surge no contexto de mudanças políticas sociais e culturais." Sobre os personagens e a "modernidade atrasada" da fazenda que serve de cenário à primeira obra, especulou: "Dizem muito sobre o Brasil da década de 1920 e - por que não dizer? - do Brasil de 2013".

Na hora de avaliar "Vidas secas", Hatoum recorreu a Rubem Braga, lendo trechos de um texto do cronista sobre o livro, em que brincava com o fato de poder ser visto como uma coleção de contos autônomos. "Graciliano não fez assim por criação literária, fez por necessidade financeira. Ia  escrevendo e vendnendo à prestação. Depois vendeu tudo por atacado. O autor fez, assim, uma nova técnica e romance no Brasil: o romance desmontado." Por fim, após repisar a "autocrítica obsessiva e implacável ao ponto da soberba" de Graciliano - que não tinha "autoindulgência" ou "sentimentalismo", Milton Hatoum falou que homenageado "igualava-se com humilidade a Fabiano, um herói diminuído sem qualquer grandeza intelectual ou material". Fabiano é o miserável chefe de família de "Vidas secas". E citou o último parágrafo de um discurso feito por Graciliano Ramos em 27 de outubro de 1942, quando recebeu uma homenagem. Na ocasião, teria se comparado ainda aos personagens Paulo Honório, de "São Bernardo", e Julião Tavares, de "Angústia".
"Ninguém dirá que sou vaidoso referindo-se a estes três indivíduos. É possível que eu tenha semelhança com eles, e que haja, utilizando os recursos capengas, conseguido animá-los", afirmou, autodescrevendo-se como "aparelho registrador". "E nisto não há méritos. Associo-me aos senhores numa demonstração de solidariedade a todos os infelizes que povoam a terra." Hatoum não chegou a dizer se Graciliano desejou qualquer "boa noite" antes do discurso.

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Data: Julho 2012 / Janeiro 2013 / Julho de 2014

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